quarta-feira, 17 de julho de 2019

O Que Fazer Nessa Situação?

    

     Estou ficando emocional demais. 
    Vibrações cósmicas tomam conta do meu caráter reflexivo, vou fazer uma caminhada ou andar de bicicleta com o fone do rádio enfiado na orelha. Talvez a trilha sonora seja Joy Division ou Nirvana. 
    Ainda não cheguei ao caos, mas, se continuar assim haverá um fim trágico; eu me jogarei de cima da escada metálica que fica na cozinha. Ela é usada para pegar os potes de doces que estão lá no alto do armário. Será grave o prejuízo para a humanidade quando aquele pote de geleia rolar pelo piso branco e azulejado e se arrebentar no canto da parede.
    Melhor descer da escada bem devagar com meu pote predileto na mão esquerda e dizer de uma vez o que precisa ser dito.

       Há certas situações esdrúxulas que tem me perseguido no decorrer da vida. Uma delas é o encontro com personalidades que eu nunca desejaria ter encontrado - e se pudesse cruzaria a rua ao observar ao longe a aproximação.
       Como tem gente problemática por aí e de difícil convivência! Pessoas tão complicadas em sua essência que parece que já nasceram assim.
     Tem de todo tipo: as mais introvertidas: são caladas e só ouvem, ,mas de vez quando soltam pérolas maravilhosas. As mais falantes: são exibidas e egocêntricas. As nervosinhas: gostam de achar defeito nos outros e nunca estão erradas. E tem aquelas que são uma mistura desses tipos todos dependendo da fase da lua.
     Você tem presente alguém assim? Conhece ou já conheceu? 

     Complicado lidar com gente com essas características no dia-a-dia. É um enorme exercício de tolerância e autoconhecimento dos próprios limites.
     Já nem sei mais se tenho este limite. 

     Como poderia encontrar harmonia convivendo nesse meio se desconheço meu nível de tolerância para determinadas situações?
      Já vi tipos que tem algo parecido com um colapso nervoso quando se sentem sob-pressão ou provocados. Então dizem que são sinceros ou genuínos. 

     Estranho...Tento de verdade compreender o que motiva um comportamento desta natureza.
     Muitas vezes me coloco no lugar do outro tentando entender, em alguns casos, é claro. Mas acabo não compreendendo nada e nem a necessidade que algumas pessoas têm de chamar tanto a atenção pelo lado ruim da conduta. Então retorno ao meu mundinho e fico pensando como reagir: castigar, ignorar ou perdoar?
     Impor limites seria uma regra a seguir, mas nem sempre surte o efeito desejado, porque o autor da ação ao perceber isso vai se sentir ofendido, ou pior, injustiçado por ser alertado do seu comportamento ridículo. Quando acontece tento fazer de um jeito sútil que a pessoa possa refletir sobre a atitude inoportuna. Na maioria das vezes um comportamento inadequado compromete o andamento de atividades e convivência, seja no âmbito de trabalho, familiar ou lazer.

       E novamente vem a questão de como agir.
      Então surge o momento daquela conversa séria, que geralmente não basta, pois a figura só sentirá de verdade a burrada que fez quando for privada de algo que ela julgue importante; seja um bem material, ou de conforto, ou até de convivência.  Inclusive da presença esporádica de alguém que ela realmente goste.
    Apontar com exemplos de situações concretas esses desajustes àquele que o faz, não é coisa fácil. Demonstrar o quanto o comportamento da pessoa em questão pode influenciar negativamente no ambiente ou na vida de outros é uma luta árdua. 

     A situação fica ainda pior quando a dita cuja pessoa difícil tem autonomia e domina os próprios recursos financeiros, ou detém uma situação de liderança dentro de determinado ambiente.
Muitas pessoas nesta situação utilizam tal poder para agir de forma desmedida, humilhando ou desprezando seus próximos, inclusive subordinados, amigos e parentes.
    Eu sempre imagino o seguinte: "Toda e qualquer relação deveria se basear numa forma harmoniosa e justa com todas as demonstrações possíveis de ajuda, afeto, carinho, gratidão e generosidade".
        Onde será que minha fértil imaginação se perdeu?

   Eis aqui a pergunta que não pode calar: "E quando o interlocutor não permitir que haja espaço para apontar os seus defeitos? Ou nunca aceitar receber críticas ou até mesmo elogios, por achar que atitude elogiosa é rasgar seda e a crítica é ofensa"? O que fazer? 

     Sinto muito, não há o que fazer.
    Que coisa mais chata viver assim pisando em ovos o tempo todo.
     Aí é que surge o momento de refletir e procurar novos caminhos, pois tem gente que não tem mesmo conserto. 
Gente que torna a vida dos outros uma insuportável lição de paciência, tristeza e insatisfação.

       É óbvio que ninguém pode ou deve ser desrespeitado e humilhado por excessos de julgamento precipitados de gente inconsequente. Aquele que se sentir ultrajado deve ter a coragem de enfrentar e nunca abaixar a cabeça. Pois, diante de alguém sem o equilíbrio e noções básicas de comportamento, nunca se pode demonstrar insegurança ou falta de personalidade, se assim o fizer com certeza será massacrado.
     Torna-se primordial tentar mostrar para tal pessoa oprimida (ou para si mesmo) que é necessário ter consciência do que quer da vida e do que busca. Quais coisas boas que realmente deseja aprender e dividir com os outros.
         Ser premiado com rancores e frustrações de gente desequilibrada, sendo conivente com isto, não poderá parecer uma sentença no presente, mas com certeza terá toda a garantia de um péssimo futuro. Não é bom insistir no erro dando trela para quem não respeita. Esse ser não merece consideração.
      “Será que é tarde para viver em paz objetivando novas realizações, sem ter alguém tentando ao todo momento impedir a caminhada?”
       Agora posso dizer: "Ainda bem... Estou aliviado que você chegou até aqui e entendeu tudinho e passará adiante".  

      Talvez amanhã, ou quem sabe depois, eu possa escrever sobre política, amores frustrados, sexo e rock and roll, ou apenas dissertar sobre o buraco da agulha ou da cabeça do alfinete, isso bem antes de ficar emocional demais para subir na escada e me deliciar com a geleia de morango no biscoito cream cracker.

2 comentários:

  1. O texto é bem interessante. Ele nos faz pensar sobre nossas atitudes e palavras em determinadas situações e ambientes.
    Será que as vezes nos tornamos " insuportáveis",sem nos darmos conta disso?
    Acho que o texto nos faz refletir muito sobre isso.
    É um assunto delicada de se falar; por isso o toque de humor sobre a escada da cozinha e a geleia, foi sensacional!!!
    Espero que os leitores gostem tanto como eu gostei e reflitam a respeito de si mesmos e de suas atitudes. Parabéns!!
    Lilian

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  2. Patricia Ramos Sodero20 de julho de 2019 às 17:07

    Boa tarde,Sr.Autor!Bom ver que voltou a nos passar reflexões do dia-a-dia...São atitudes que muitas vezes tomamos em relação aos outros,onde os mais prejudicados somos nós mesmos.Quantos casos vemos por ai de situações conturbadas,onde pessoas insuportáveis saem intactas,de cabeça erguida,como se nada tivessem feito,como se nada tivesse acontecido.Por isso,dentro dessa reflexão,digo que o melhor é você respeitar(disse respeitar e não aceitar),para que possamos viver em um mundo melhor,se é que ainda é possível isso acontecer.Respeito é um sentimento(ou ação)que pouco vemos,não é mesmo?Então,passemos a tomar mais cuidado quando estivermos perto de alguém insuportável.Mais fácil vir a ação própria e pedir licença de sair...Parabéns!!!Belo texto.Um beijo e até o próximo.

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