Fiquei imaginando o quanto seria importante conversar com você sobre isso, apesar que reconheço, como sempre foi, que nada de útil você consiga enxergar em minhas palavras. Muito menos algo que modifique seu gênio indomável - esse mesmo gênio que nos levou a longos silêncios, que agora vejo o quanto foi difícil superar. Mas, por favor, apenas entenda, sei que você também gosta de refletir sobre tudo o que tem dificuldade para lidar ou entender, e procura enxergar o outro lado das coisas. Olhando lá atrás, aqueles momentos complicados não lhe parecem um deja-vu? Depois de pensar e repensar chegou a mudar sua opinião? Um cantinho mais profundo do seu ser não se alterou enquanto estava triste? Poxa vida.... Vê agora no que eu me tornei, ou como são cruéis as rusgas que levamos adiante para tentar abafar o sentimento interior que nos traz uma contradição permanente? Isso parece uma doença que confunde a nossa alma e os desejos mais primitivos. Ou, então,faz uma confusão em tudo que julgamos correto, trazendo uma sensação que não podemos entender e nos faz perder o melhor dessa vida aos poucos, quase que imperceptivelmente. Ahhh, se fosse possível enxergar além dos curtos limites dos velhos preconceitos do passado, talvez um novo saber indicasse o caminho certo vindo dos pressentimentos e, com isso, haveria mais confiança para suportar as tristezas. Do nada, algo novo poderia surgir, algo que fosse completamente desconhecido a você ou a mim: onde os sentimentos que se calaram antes, por uma desastrosa interpretação de sinais, fizessem tudo ao redor recuar e um enorme silêncio reinasse por dentro. Aí sim, viria a consciência que as tristezas do passado foram momentos de aprendizado. Às vezes dolorido e às vezes de superação, mas apenas aprendizado, ainda que tivessem sido um desastre causador de paralisia. Mesmo assim foi possível sair sem se machucar demais. O meu mais sincero desejo é que a dor não estivesse mais lá para ambos - que já tivesse sido diluída nas memórias daquele tempo que se foi. A certeza é que é difícil saber o que exatamente houve de verdadeiro naquelas motivações de conflito. Facilmente alguém poderia crer que nada demais aconteceu, no entanto, existem cicatrizes que mostram a cada dia tudo que foi transformado e o que ficou estranho dentro de cada um.. Muitas vezes a visão do que tem adiante chega devagar e assim novamente tudo se sucede como um grande acontecimento que renova a empolgação que estava esquecida num canto. Quanto mais se puder olhar com um viés de neutralidade e paciência, mais profunda será a conquista pelo destino tão desejado anteriormente. E quando ele vier, se vier, – isto é, quando a porta se abrir para chegar aos outros – com toda certeza estará tão próximo e familiar que nem haverá conta do quanto demorou a chegar. Eu acredito nisso. É preciso – é uma evolução que aos poucos desenvolve o sentido lógico de toda uma vida, são as sensações de recompensa esperadas há muito tempo. Você poderá reconhecer com isso que a vida certa ou errada está em nós, nas atitudes que praticamos. Muitas pessoas não percebem que agir assim é algo simples, e continuam no mesmo passo. Porém, ao darem de cara com algo estranho e confuso recuam diante da novidade. Por isso os movimentos enganam quando não se observa uma solução tão próxima que não chega sem uma ação efetiva e definida. Podemos nos enganar o tempo todo quando o melhor seria admitir que fomos deixados sós, e que todos os pontos que considerávamos apoios foram retirados e as escolhas se tornaram únicas. E a partir de então ficamos entregues ao insólito como se estivéssemos sendo arrastados pelos ares e caindo como uma pedra despedaçada. É claro que nesse momento a cabecinha criativa inventa uma mentira enorme para acalentar o estado dos sentidos, fazendo com que todas as medidas, distâncias e transformações se alterem na conveniência daquele que se torna solitário, com a esperança de que tudo irá logo mudar. Para isso é preciso força. No fundo, mas bem lá no fundinho mesmo, a única força que se dispõe é a de aceitar a existência, e que tudo é possível dentro dela, para o resto tudo vira insegurança. Essa ação é exigida em determinados momentos, porque não é só a falta de interesse que faz a relação interpessoal se repetir numa infindável monotonia, em muitos casos é o medo do novo, do cansaço e, diante disso, ao não nos sentirmos bastante fortes recuamos. Somente quem se sente preparado, quem não exclui nada com antecipação, poderá viver uma relação com alguém como algo empolgante e vivo; indo até o fundo da existência que une a ambos ao mesmo interesse.
Pense alto, pense que mais que os erros que condena em você e nos outros, e aparecem num ciclo contínuo na esteira da vida que leva, grande parte da culpa de tudo é dessa criação submetida à vontade alheia, que pode tornar a qualquer um uma pessoa meio ausente das conexões reais do tempo e da vida e ainda acorrentam a costumes cheios de regrinhas. Sabe de uma coisa? Muitas vezes um fato desagradável provocado por alguém que consideramos imprestável, que fez parte por algum tempo do destino que era o sonhado mas se tornou indesejável, foi uma necessidade que não se podia evitar. Esse momento acabou acolhido pela vida como um aprendizado dolorido, no entanto, essa vida não se tornou limitada pelos nomes dados a essas atitudes e sim à pessoa pelo caráter destrutivo. Mas logo em seguida a esse pensamento é possível retornar ao ponto inicial da própria consciência e assumir que as escolhas feitas foram livremente com opções de risco calculado. Se considera que sua vida está repleta de tristeza, sacrifício e falta de reconhecimento por causa disso, eu posso dizer o mesmo da minha. Ou até que ambos erraram. Mas se fosse diferente, jamais poderia ter encontrado palavras certas para exprimir os sentimentos contraditórios pelos quais passamos ou como ainda permanecem bem vivos na minha imaginação desde a passagem por Vinhedo.