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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Uma Viagem Romântica 11

    - O que houve? Por que essa cara de assustada?
    - Olha lá, o homem vem vindo - ela levou as duas mãos ao rosto.
    - Pela sua cara, até parece que estamos fazendo algo muito proibido nesse lugar. Não vejo ninguém vindo. Você usa drogas escondido?
    - Não vê mesmo? - Ela deu um sorriso forçado - Logo você vai ver, porque ele está chegando perto, eu sinto a presença.
    O vulto finalmente se revela em meio à escuridão, acende uma lanterna iluminando diretamente o rosto de Karla e pergunta:
    - Você novamente aqui? Já é a terceira vez em menos de um mês... Você já foi avisada que é proibido permanecer no parque após o fechamento. Peço que me acompanhe agora até a saída.
    - Seu guarda, eu sei que não é permitido permanecer após escurecer. No entanto, todos que têm espiritualidade sabem que esse é um local sagrado. Uma terra consagrada por antigos povos que viveram aqui antes do descobrimento da América. Essa montanha emite uma energia magnética que faz muito bem para os ossos e para o espírito de quem entra em sintonia mental com ela. Inclusive, o senhor já deve ter ouvido falar que aqui em cima as bússolas ficam completamente malucas. Por favor, faz de conta que não me viu, preciso apenas de mais alguns minutinhos de meditação, para energizar meus ossos e acalmar a minha mente, logo em seguida descerei, eu prometo.
    - Está bem. Mas só dessa vez. Não quero nunca mais encontrá-la aqui após o horário de visitação.
    - Obrigada, senhor. Por favor, desça em silêncio e com muito cuidado, a escada é perigosa no escuro. Agradeço novamente seu consentimento para que eu fique com a minha paz no meu momento de cumplicidade com o céu, a montanha e todos os seus mistérios.
    - Não demore. Não quero ter que voltar aqui com a polícia.

     Poderia se tratar de uma ilusão, ou que ela estivesse subjugando meus pensamentos, minhas sensações, com algum tipo de hipnose. Mas, percebo que o tempo passa devagar enquanto a cena acontece. Olho para cima e as estrelas se abrigam na escuridão dos meus olhos, pois tudo se desmancha na confusão da falta de explicação - o que poderia dar a miníma noção de equilíbrio para os fatos.

     Karla passa as mãos sobre os cabelos, exalando desapontamento. Ela demostra uma culpa assustadora, mas também, para sua vergonha e cinismo, alívio repentino. Quando o silêncio entre nós se torna insuportável, ela pega a minha mão e coloca sobre o seu coração. Com grande esforço, recomeça o diálogo.

     - É... Eu sei. Você deve ter achado estranho o homem falando essas coisas comigo.
       Ergo uma sobrancelha e respondo:
     - Você não tem nada para me contar? Acho que agora existe uma dúvida e uma tensão presente no ar.
     - É uma história antiga. Existem coisas as quais desejamos e outras que não nos é mais permitido.
     - Você está falando em enigmas. Não use a força das palavras ou da sua habilidade com a dialética para tentar me explicar alguma coisa sem explicar nada.
     - Não - diz ela, a voz neutra. - Você não iria acreditar.
     - Tenta. Quero saber por que você veio aqui outras vezes. O que vem fazer nesse lugar?
     - É um local sagrado. Eu passo um tempo aqui e vivo experiências que apenas um lugar com esse magnetismo pode me propiciar.
     - Estou ficando com medo de você. Você pratica algum tipo de bruxaria, magia negra ou essas coisas do ocultismo?
     - Não se preocupe, nada de mal vai acontecer. Somos namorados, lembra? Viemos até aqui para apreciar as belezas da natureza, o pôr do Sol, as estrelas, o luar... Há horas que não nos beijamos... Não está achando divertido o nosso passeio? Não sente desejo por mim? Que tal fazermos amor aqui antes de irmos embora?
     - Eu não... (engolindo seco) Eu prefiro descer... Vamos voltar para a pousada. Está ficando muito frio aqui, os pernilongos estão me atacando.
   
      Fiquei um instante em silêncio, olhando a escuridão e as luzes da cidade lá longe, enquanto esperava a iniciativa dela.

     - Karla, não seria melhor descermos logo? - Insisti.
     - Nossa Ronnie, olha só: percebe como tudo parece errado e fora do lugar no horizonte? - Ela deu uma risada curta e contida, fez como se não tivesse ouvindo meus apelos - Às vezes penso que estou ficando maluca quando enxergo tudo distorcido.
     - Tudo está em perfeita ordem. Ainda bem que temos o luar, ao menos podemos ver os nossos pés e os degraus na descida - eu disse, com a voz trêmula de frio, reafirmando a vontade de sair o mais rápido possível dali.
     - Você está muito impaciente e inseguro. Tenha calma, nós já vamos. O medo do desconhecido pode às vezes tomar formas variadas na sua imaginação. Você pode imaginar vultos de pessoas, horizontes enevoados, abismos sem fundo ou pedras misteriosas. Lembre-se que o seu medo pelo desconhecido nada mais é que o seu apego pelo conhecido. 
     - Lá vem você com seus enigmas. Eu apenas quero descer daqui. Sente como o vento está forte? Não me sinto à vontade. 
     - Só mais um minuto para que entenda a seguinte ideia: quando você diz a si mesmo que tem medo do desconhecido é como se você estivesse criando, mesmo sem perceber, entidades ou seres que pertencem a outras dimensões. Isso acaba limitando o seu raciocínio lógico. Será que esse medo, do que você considera desconhecido, o impede de fazer mudanças significativas em sua vida, ou em como entender e enxergar a realidade? Ou será que é justamente o contrário? Você primeiro escolhe não mudar para poder se manter apegado ao mesmo de sempre - ao padrão repetitivo e à mesmice, alegando que o medo não influencia sua vida. Não será isso?
     - Olha... Não sei... Eu apenas sei que este papo está muito "cabeça" e eu estou ficando resfriado e com receio que o guarda volte aqui com a polícia, já que estamos demorando para atender o pedido dele.
     - Você está se posicionando no papel de vítima de um destino fatalista, sem que nada realmente importante tivesse acontecido para deixa-lo com medo. Você está lutando contra si mesmo. Veja que o incerto, a aventura e o imprevisto nem sempre precisam carregar uma imagem negativa e de medo. Afinal de contas o que temos aqui não é um infinito de possibilidades em aberto, para explorarmos todos os tipos de sensações que quisermos?
      - Sim. Mas eu prefiro explorar essas sensações num lugar mais quente e seguro.
      - Liberte-se do apego ao conhecido e apenas viva e sinta novas sensações comigo. Aproveite as possibilidades em aberto para que possamos tomar as decisões que nos dão prazer nesse exato momento da nossa existência. O amanhã não sabemos como será. 
      - Estou entendendo muito bem aonde quer chegar, mas qualquer ação exige muito mais que a simples troca de palavras. É preciso aprendizado para ter a mente aberta e livrar-se dos medos interiores ou das consequências que não temos controle. Principalmente das ações dos outros em relação às leis as quais estamos sujeitos por estarmos aqui fora de hora. Veja bem: acontece que agora, nesse exato momento, eu estou cheio de medos, dúvidas e insegurança quanto ao nosso destino aqui em cima. Quando anoiteceu eu cheguei a imaginar que talvez você fosse uma psicopata que quisesse me jogar do alto da pedra. Mas agora estou pensando outra coisa. Penso que talvez você vem até aqui praticar rituais - os quais ainda não entendi muito bem como funcionam.
     - Não pense assim de mim. Você precisa de uma mudança no seu paradigma mental. Você está jogando em minhas costas todas as culpas da sua vida, aquelas que estão dentro da sua mente por anos a fio. São os fantasmas que carrega do seu passado. É necessário desapegar do que não lhe serve mais e se libertar dos sonhos ruins. Sei que tem tido pesadelos sombrios  com figuras disformes nos quais me enxerga em várias fases. 
     - Como sabe disso?
     - Você fala durante o sono - comentei sobre isso rapidamente na pousada. O sono liberta a alma do corpo. Assim que a alma se emancipa, ela se torna independente pela suspensão da vida ativa. Daí surge um tipo de clarividência indefinida que se estende pelos lugares mais distantes, ou que jamais se viu e, algumas vezes, vai mesmo a outros mundos que nunca imaginaríamos existir em nosso plano. Junto disso tudo vem a lembrança que se fixa na memória de quem dorme e sonha com lugares ou pessoas de existências anteriores. As lembranças de acontecimentos em existência presente, ou anteriores, entremeadas de fantasias e coisas do mundo atual, formam um conjunto bizarro e confuso que parece não ter sentido, e nem ligação com o agora, mas tenha certeza que tem sim. Pessoas com a mente preparada e elevadas podem se comunicar nos sonhos, e até mesmo quando despertas, com espíritos. Percebem isso como se fosse uma intuição, um aviso para algo que virá a acontecer. Pense sobre isso e o motivo de estarmos aqui.
     -  Putz, passou do filosófico para a espiritualidade. Vamos logo! Não quero continuar aqui. A caminhada é longa até a saída. Para piorar, a escadaria não tem iluminação e meu nariz está escorrendo. Acho que vou pegar uma pneumonia.
     - Está bem... Vamos embora.
     - Ufa!!! Pensei que iríamos ver o dia amanhecer aqui.
     - Podemos dormir umas horinhas e voltar para cá antes do Sol nascer, conheço um caminho alternativo que não passa pela portaria. 
     - Ahhhh, nããããõoooo!!!! Ninguém merece... Estou cansado pacas e ainda tem todo esse percurso até o carro. Chegando na pousada vou me atirar na cama de roupa e tudo.  Vou dormir até meio dia. Venha. Segure minha mão. Cuidado com o primeiro degrau, a tábua está solta e o corrimão bambo. 
       


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Muito obrigado por me prestigiar.
 
 
   

Cansado e Velho

Minha história gira em torno de mim mesmo, — uma vida quase nas portas do delírio na mente de muitos —, com o intuito único de conti...