Mostrando postagens com marcador Dear Miss C Capítulo 08. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Dear Miss C Capítulo 08. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 26 de maio de 2020

Dear Miss C Capítulo 08

     Senti bastante fome depois da longa caminhada; o banho morno foi bem relaxante. Entrei, saí e o cachorro vira-latas continuou quieto num canto - pouco abriu os olhos para ver quem era, mesmo recebendo os respingos do chuveiro que soltava água à prestação. O lanche de pernil serviu para dar um sustento e acalentar o ânimo - fiquei com uma fome de leão e dor nos calcanhares devido à pisada dura no asfalto. Estou ansioso e não vejo a hora de chegar até a caverna dos morcegos para ter o meu momento de comunhão com Deus na mais pura essência de toda sua criação. Aquele será o lugar de onde os pensamentos irão se alinhar para a noção mais próxima que tenho da vida ou até da morte e com todos espíritos que regram o milagre da evolução interior. Dentro e fora do meu ser encontrarei a mim mesmo pronto para alcançar cada vez mais a sabedoria, o perdão e a graça -  busco uma total consciência com a atividade amorosa suficiente para eliminar aquilo que é repugnante ao meu equilíbrio perfeito. O mais desejo é que tudo isso finalmente me traga a paz tão esperada.
   Mal saí do quartinho onde me troquei, quando Nanda acena gritando meu nome: “Re... Re... Veja lá no fundo quem chegou procurando um lugar para montar barraca!”.
    Minha musa, lá estava o nosso amigo Zé Louco com uma de suas namoradas; desta vez a arquiteta Simone. Você bem sabe que Zé louco foi o melhor amigo que tive nos tempos de estrada. Ele sempre foi uma pessoa solidária e disposta a uma boa conversa - um parceiro guerreiro cheio de ideais revolucionárias. Bem... Como você mesma sempre dizia: o grande pecado dele era a cada final de semana trazer uma namorada diferente ao Camping em qualquer cidade que estivéssemos. Você odiava esse jeito dele, lembra? Um dia ele poderia estar com a enfermeira, outro dia a arquiteta, outra vez era aquela vendedora com traços de índia paraguaia e, em alguns casos, a própria esposa com seus mais de vinte anos de união inseparável - ela fazendo de conta que não sabia de nada, mas, no fundo, sabia de tudo - ela também gostava de acampar e aparecia de vez em quando para marcar território. Tirando esse lado mulherengo, Zé Louco sempre foi ponta firme no que alguém precisasse dele - atendia e conversava com tudo mundo, fosse gente conhecida ou estranha sem fazer qualquer distinção. A figura de Zé Louco era hilária e diferente: um baixinho do tamanho de nada todo tatuado – tatuagens desbotadas pelo tempo -, cabelos e barba praticamente brancos e desalinhados, roupa surrada e suja da poeira da estrada, dentes cariados, bigode amarelado pelo excesso de cigarro; e ainda um cajado com uma pedra brilhante no topo e um chapéu de Cowboy todo torto e seboso. Ele era um cara extremamente carismático, popular e muito respeitado no meio em que vivíamos, mesmo antes de o conhecermos. Ele era uma lenda viva rodando pelas estradas em sua motocicleta velha vazando óleo, e por onde algum parceiro seu chegasse sempre tinha alguém para perguntar se ele também viera junto – e se via logo a frustração da pessoa quando a resposta era: “Não desta vez”. 
     Ganhou esse apelido “Zé louco” devido ao temperamento pouco previsível, principalmente em situações em que deveria agir com bom senso - ele não era muito de debater, preferia aconselhar. Aparentemente autoritário era um amigo para todas as horas, e  jamais deixaria um companheiro na mão.
Após um longo e apertado abraço, com direito a tapas nas costas e murros suaves por cima dos ombros, nos soltamos para olhar com mais atenção os detalhes um do outro.
- Meu patrão o que faz por aqui depois de tanto tempo? (ele mantém o costume de chamar a todos de “meu patrão”)
- Caramba Zé, você é a última pessoa que eu pensaria encontrar nessa caminhada.
- Meu patrão, nós tentamos entrar em contato com você por várias vezes. Mandamos convite das festas que fizemos nos aniversários dos nossos amigos estradeiros. Você não recebeu? Inclusive mandei e-mails. Pedi ao meu cunhado que fosse de moto até São Paulo para saber de você, mas ele voltou sem noticias porque não encontrou ninguém em casa. Caralho! Fiquei chateado, meu patrão... Você nunca respondeu uma única mensagem minha.
- Zé... Se eu contar o que me aconteceu você não vai acreditar. Eu não podia responder mensagem de celular e nem de internet. Eu fiquei meses em tratamento numa clínica em Itapira. Ainda não falei disso ao Tom e Nanda, então vamos ser discretos que depois, com mais tempo, eu explico tudo em detalhes.
- Meu patrão, fala sério, vai. Para de brincadeira! Você aparece do nada e já vem me zoando, né? Que porra é essa de tratamento? Você por acaso virou um daqueles zumbis da cracolândia? Essa história não me convence. Tudo bem que você está diferente com esse visual de Jim Morrison perto da morte, mas até aí eu também ando assim bem nesse estilo. O que me admira é que, em vista do cara vaidoso que você era, parece que mudou bastante, talvez até tenha sentido saudade do meu estilo e resolveu adotá-lo. Mas ficar piradão da cabeça a ponto de ser internado, aí já é difícil acreditar...
- É... Não adianta mesmo tentar explicar. Você continua o mesmo baixinho cabeça dura de sempre, mas mesmo assim eu gosto pacas de você.
- Eu também te considero pra caralho. Uma pena a gente ter se afastado durante tanto tempo. E a namorada veio com você?
- Nós não namoramos mais.
- Sério? Caralho, meu patrão, vocês pareciam se dar tão bem. Faziam um casal até que bonitinho. Tá certo que ela era bem calada, tímida e muito na dela. Mas a gente gostava de ver vocês juntos. Não arrumou outra ainda?
- Ainda não. Estou dando um tempo, colocando a cabeça no lugar. Andei pensando em fazer umas coisas ruins que agora me arrependo um pouco.
- Caralho, véio! O que ela fez de tão grave? Ela me parecia uma pessoa tão legal. Todo mundo gostava dela e admiravam o jeito que vocês andavam pelo Camping, sempre de mãozinhas dadas e tudo, com aquele ar de casalzinho apaixonado. Quando vocês se trancavam na barraca então, eu lembro bem, ninguém incomodava porque todos sabiam que o casalzinho de pombinhos estava em lua de mel. Aquela barraca tremia, hem, meu patrão? Fala sériooo, hein... A gente ouvia de fora vocês mandando ver ali dentro... Ainda bem que era uma barraca para quatro pessoas, porque se fosse do tamanho da minha, vocês rolariam com barraca e tudo por cima das outras.
- Você é fogo. Não perde a oportunidade de tirar um sarro.
Nesse momento Tom aparece com o prato cheio de churrasco que acabou de sair do espeto. Asas e coxas de frango, picanha, linguiça e pão fatiado por cima: “Divirtam-se com isso, se acabar eu trago mais. Ah... Se quiserem cerveja e refrigerante é só pegar na caixa de isopor no porta-malas do meu carro”. Zé responde: “Eu não bebo mais, só fumo. E não consigo parar com esse veneno que vai acabar me matando! Vou provar uma asinha e um pedaço de linguiça no meio d pão, depois monto a  barraca naquele pedaço de chão lisinho que encontrei beirando a cerca de arame farpado”.
- Pois é meu amigo. A vida prega peças na gente. A minha mãe anda muito doente. A minha internação só fez o estado dela piorar. Você se lembra quando contei que ela quebrou tudo em casa num ataque de fúria?
- Lembro sim, meu patrão. (de boca cheia mastigando pão com linguiça)
- Então... Depois disso vieram as alucinações constantes. O estado mental foi piorando; o físico também foi dando problemas. Ela sentia dores na coluna e os ossos rangiam mesmo estando parada. A cabeça doía tanto que ela queria dar com ela na parede. Os remédios fortes para amenizar as dores acabaram afetando a mente e tornando tudo mais difícil na convivência com os outros. Foi um tempo complicado. Agora parece que está tudo controlado porque o médico conseguiu encontrar uma medicação certa para o problema dela.
- Meu patrão... É triste isso, heim.Vem cá! Quem internou você? (ainda de boca cheia)
- Foi ela, minha mãe, num dos momentos que ela tinha uma fase de lucidez prolongada.
- Por quê ela fez isso? (engolindo)
- Olha Zé, eu estava com depressão. Não saía mais de casa. O meu passatempo era escrever cartas para aquela infeliz. Chegou um tempo que ela achou que deveria me internar e fez com a ajuda de um deputado para quem ela trabalhou durante muitos anos - se não fosse com a ajuda e influência dele, com certeza, ela não teria como fazer.
- Entendi... Agora você está bem? Você não vai atacar com um facão a Simone e eu enquanto dormimos, né? (E dá risadas sem parar até quase engasgar)
- Não, Zé. Pode ficar tranqüilo que essa minha fase já passou.
Em seguida Tom aparece de novo, fica só olhando a conversa e menos de um minuto vai correndo cuidar do ponto da carne e da altura do fogo. 
     Daí em diante demos muitas risadas enquanto Tom ia e vinha para dividirmos em três o que tinha no prato; no final da comilança nos abraçamos emocionados pelo reencontro e principalmente agradecendo a Deus pelo alimento nesse ato de celebração. 
     O palco já estava montado e a música tomando conta do ambiente, bem no comecinho da trilha ecológica;  era o lindo caminho para a cachoeira da porteira preta. Nanda ajudou no preparo do churrasco cortando, temperando e trazendo baciadas de carne da cozinha para a churrasqueira - Tom comandava o ponto do churrasco e a retirada dos espetos ou das carnes na grelha. Nanda sempre vinha dançando em ritmo de malabarismos com a bacia como se fosse Carmem Miranda, e nós morríamos de rir do jeito dela. Uma verdadeira palhaça, no bom sentido, é claro! Ao final do churrasco nos sentamos numa roda de cinco para falar um pouco da vida de cada um. Ahhh, Miss C, por mais que eu não quisesse mais saber do que passou, o assunto acabou sendo você outra vez.
- Puxa vida, meu patrão, fiquei meio atônito e ainda estou chateado por vocês terem terminado.
- Foi melhor assim. Ela nunca gostou do Re de verdade. No entender dela aquilo era apenas diversão. – rebateu Nanda antes que eu abrisse a boca.
- Não sei. Eu geralmente não me engano com as pessoas. Ela tinha um olhar bom e um jeito discreto. Sempre me tratava bem quando eu aparecia na barraca deles para pedir qualquer coisa – afirma Zé ainda meio chateado.
- Ah Zé... As aparências enganam... Ela não era nada do que se mostrava. A gente que é mulher sabe observar bem esses detalhes em outra mulher – continuou Nanda tentando convencer Zé Louco que Miss C era uma fraude.
- Vocês não têm assunto melhor para conversar? – apartou Tom – vão ficar o tempo todo falando de quem já “morreu”?
- Ele precisa confrontar os fantasmas que o perseguem dia e noite. Não existe outro jeito que não seja a eterna busca de explicações para encontrar as respostas. Renunciar ao passado não funciona; uma hora ou outra tudo volta à tona. O melhor é trabalhar a mente na busca do auto-entendimento. Isso tem que ser feito com muita coragem, principalmente para enxergar onde errou e tentar consertar – afirmou Nanda enquanto Tom se levantou para cumprimentar novos amigos que chegavam.
- O que ela fez de tão ruim para ele? Eu não entendo porque você a critica tanto assim! – Zé louco agora parece indignado.
- Ela não presta, fazia dele um palhaço o tempo todo! – Nanda exclama, parece brava e continua - Re... Conte a ele o que ela fez. Não precisa contar tudo, apenas dê uns dois exemplos.
- Ok, gente. Não briguem por causa disso. Eu conto sim se for para acabar com essa polêmica. Bem... Que coisa mais chata isso! Vou começar falando a respeito de telefonemas: era muito difícil falar com ela no celular porque sempre dava caixa postal e mesmo depois nunca retornava a ligação. Eu só conseguia algum contato quando ela queria falar comigo. Ou então, quando por um milagre, atendia a chamada, logo batia o telefone na cara na primeira palavra que não gostasse. Depois de umas dez vezes que fez isso acabei desistindo de ligar. Eu notei que depois de um ano nunca ouvira o seu celular tocar - ela o escondia bem lá no fundo da bolsa. Um dia eu disse assim: “Por quê você esconde o celular? Tem medo que alguém ligue para você enquanto estamos juntos no Camping?” Ela respondeu; “Ninguém vai me ligar!”, e eu retruquei, “Mas e a sua família? Ninguém se preocupa se você está bem ou se chegou direitinho ao destino?”, novamente veio a resposta, “Eles não vão me ligar e ponto final!”. Pois é... Era assim que funcionava, se eu fosse um maníaco e a esquartejasse em qualquer cidade do interior, enterrando os pedaços ou dando aos cães de rua, ninguém saberia. Sendo assim, depois de um tempo, o nosso contato ficou restrito à internet. Bom... Ela nunca me ligou nos dias que ficávamos distantes, nem para perguntar se eu estava bem. Nem no meu aniversário me ligou... Quando retornávamos do Camping, – em todas as vezes que viajamos junto - isso depois de duzentos quilômetros ou mais, ela nunca me convidava para entrar em sua casa; não perguntava se eu queria descansar alguns minutos, comer qualquer coisa, beber água ou ir ao banheiro, isso antes de seguir para minha residência que ficava distante mais de uma hora de percurso. A minha parada naquele portão era apenas para retirar os seus pertences e ser dispensando o mais rápido possível, fosse debaixo de Sol ou chuva.
- Não acredito que ela fazia isso com você! – Zé incrédulo, balança a cabeça e olha para cada um esperando que alguém acrescentasse algo.
- Verdade. E tem mais. –continuei – Certa vez combinamos de ir ao motel num sábado. Ela me convidou para ir em sua casa assistir um filme que passaria na TV a cabo. Ficamos ali na sala assistindo o tal filme que nem lembro mais o nome. A sessão terminou vinte e duas horas, foi quando uma nova cena inesperada aconteceu:
- Está pronta?
- Sim estou.
- Você avisou a sua mãe que vamos dormir fora?
- Não avisei.
- Por quê?
- Porque eu não vou dormir fora com você. Quero que me traga de volta no máximo às duas horas da manhã.
- Mas eu não posso. Você esqueceu que moro longe e o meu bairro está super perigoso? Se for assim é melhor a gente deixar o motel para amanhã mais cedo.
- Eu não quero amanhã. O melhor mesmo é você ir embora agora!
Nesse momento ela abriu a porta da sala e me indicou a saída.
- Não seja mal educada. Estou dizendo que é perigoso chegar em casa no meio da madrugada, mas isso não me impede de ficar aqui por mais uma hora com você. Podemos fazer alguma outra coisa e depois e vou embora.
- Não quero saber. Vai embora! – (largou a porta aberta e se encolheu no sofá)
- Por quê está fazendo isso? - eu disse.
Fechou os olhos e se manteve calada. Foi quando me levantei e fechei a porta. Ela foi lá e abriu de novo sem falar nada. Resolvi ir embora, não aguentava mais aquela situação. Dois dias depois ela apareceu no chat do Facebook e disse “Oi” como se nada tivesse acontecido.
- Eu queria um homem paciente assim. Por quê você é tão impaciente, heim Zé? – observa Simone.
- Fica quieta mulher, deixa ele desabafar! Foi só isso que ela fez, meu patrão?
- Não Zé. Outra vez foi no aniversário da sua irmã Roberta.
- Meu patrão... Uma coisa. Desculpe cortar, pintou uma curiosidade. Você viu alguém da família depois que terminaram o namoro?
- Eu vi fotos. Roberta parece bem bonita. Tingiu os cabelos numa cor mais clara, o que combinou bem com o tom da pele. Ela estava com olheiras, apesar da maquiagem disfarçar um pouco. Ela é muito parecida com Miss C nos traços, principalmente naquele jeito de esticar o pescoço e olhar de cima para baixo, e é óbvio, sem um sorriso no rosto, o que parece um mal de família. Confesso que eu sempre tive simpatia por ela e pela mãe que sonha em ser avó de pelo menos cinco pimpolhos. Elas foram as duas pessoas que melhor me trataram naquela casa. O pai apareceu na foto com o semblante bem mais velho, um olhar triste... Deve andar decepcionado com tudo o que Miss C aprontou na vida. Célia está gorda. Um tanto mais gorda que antes, tenta disfarçar usando roupas largas, o que não ajuda muito. As banhas parecem dobrar na barriga. Foi isso o que eu vi um tempo atrás e consigo me lembrar agora. Posso continuar?
- Pode sim, meu patrão. Vai lá! Isso mais parece uma novela mexicana.
- Onde parei? Sim... Nesse aniversário ela me comunicou que traria para festa a afilhada do seu ex-namorado (aquele por quem ela ainda era apaixonada), uma menina de onze anos. Ela me disse que iria buscar de carro a mocinha. Eu falei que sendo assim eu não iria à festa, já que parecia que ela não queria esquecer o passado. Ela – na tentativa de me convencer – disse que o velho Severino havia comprado um jogo novo, tipo playstation; e ela, (Miss C), queria aproveitar a oportunidade para deixar a menina brincar. Eu disse que se fosse assim não iria mesmo, e ela que convidasse os parentes do ex-namorado, já que fazia tanta questão de se relacionar com eles. No dia seguinte ela me disse pela internet que eu poderia aparecer na festa, pois havia desistido de convidar a menina. E sugeriu que ao final de tudo, lá por volta da meia noite, iríamos sair para dormir num motel. E eu, novamente e inocentemente, acreditei. Fui à festa, mas cheguei atrasado, pouco mais de uma hora do horário marcado. Pensei comigo: “Tudo bem... Ela está confortavelmente em sua casa, e vai entender que moro longe e às vezes tenho problemas no deslocamento devido ao trânsito na marginal”. No portão veio a bronca e ela quase não me deixou entrar. O seu olhar era de quem queria me mandar embora dali mesmo. Finalmente entramos. O tempo passou na festa. O velho Severino registrando tudo com uma filmadora profissional, inclusive nós dois aos abraços no sofá. Quando deu meia-noite perguntei: “Que horas vamos sair?”, ela respondeu: “Assim que os convidados forem embora”. Eles foram embora uns 40 minutos depois e lá estava eu sentado no sofá vendo TV sozinho. Deu uma hora da manhã: nada! Deu uma e meia: nada! Eu sozinho. Duas horas da manhã ela aparece na sala. Eu disse: “Podemos ir?”, ela respondeu: “Não vou sair com você hoje. Estou com sono e dor de cabeça. Pode ir embora”, retruquei, “Não foi isso que combinamos”, contrariada respondeu: “Não interessa. Vai embora que eu quero descansar!”, novamente arreganhou bem a porta e me mostrou o caminho da rua. E eu fui embora muito triste no meio da madrugada do que eu imaginava seria uma noite de amor.
- Meu patrããããooooo! Que gelada você foi se meter! Agora entendo a indignação da Nanda. Poxa vida, aquela moça não tinha cara de quem faria coisas assim.
- Mas ela fez. Foi o castigo que recebi por discordar que a menina viesse à festa além de ter chegado atrasado.
- Ahhh, meu patrão. Se fosse comigo. Eu fazia de conta que estava tudo bem, convidava para ir num Camping bem longe, talvez uns 200 quilômetros ou mais de São Paulo. Quando chegasse numa rodovia vicinal deserta, mas que fosse muito deserta mesmo! Largava essa coisa ruim no meio do nada. Assim ela aprendia não fazer os outros de besta. Faria questão de jogar fora a mala dela como a gente assiste em filmes. Você fez a coisa certa terminando esse namoro louco. Gente que faz isso não gosta de ninguém. Meu conselho é que siga a sua vida e espelhe-se em meu exemplo que nunca vai faltar companhia - Zé Louco dá uma risadinha sarcástica no final da frase.
- Então Zé? Agora você me dá razão? O que ela fez com ele não tem justificativa, se não gostava do Re era só largar e pronto. Eu avisei várias vezes que não valia a pena, mas quem é teimoso não aceita conselho e quebra a cara como aconteceu com ele – arremata Nanda em seu estilo intelectual.
    Minha musa, o papo continuou assim por horas. Não vou contar tudo nessa mensagem, pois ainda preciso lembrar de outros detalhes. Garanto que bons pensamentos e um bom coração poderiam deixar o seu rosto tão lisinho como a pele do mais lindo bebê recém-nascido. Maus pensamentos num mau coração, continuamente, transformaram um rosto bonito numa coisa pior do que a cara do monstro do lago Ness. Desmanche a carranca e vista-se como uma princesa, que todo momento que viver se tornará mais agradável. Abdique do orgulho que tanto a faz forjar tristezas com as próprias atitudes. Faça tudo isso com boas intenções e o efeito que sentirá será de alivio e renascimento. E assim siga adiante um passo por vez em busca da sua paz de espírito para a leveza da alma.

Cordialmente me despeço desejando que Deus ilumine o seu caminho.

Re.





Cansado e Velho

Minha história gira em torno de mim mesmo, — uma vida quase nas portas do delírio na mente de muitos —, com o intuito único de conti...