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quarta-feira, 13 de maio de 2020

Dear Miss C Capítulo 04

Minha adorável Miss C

    Ao escrever essa nova mensagem, sou tomado por uma espécie de nostalgia básica daqueles dias ensolarados, quando ainda havia um traço de sorriso em nossos lábios. Foi numa tarde de sábado, no meio do outono do nosso primeiro ano junto, veio a mais forte das revelações. Estávamos acampados naquele final de semana num lugar muito bonito cercado de um lado por um lago e de outro por um grande recinto coberto com lona de circo - local tomado por um pequeno palco, caixas de som e um camarim nos fundos - um sítio apropriado para alguns viajantes da estrada tomarem cerveja ao som de rock and roll a noite inteira. Havia uma trilha de lajotas com vegetação rasteira nas beiradas e bancos feitos de cortes de troco de árvore, um caminho que levava diretamente ao lugar daquele recinto onde se ouvia menos o barulho da música alta. Nessa tarde de sábado caminhávamos nessa trilha de mãos dadas e em pouco tempo nos sentamos num dos bancos para conversar. O nosso diálogo começou mais ou menos assim:
   - Sabe Re? Estive pensando numa coisa: reparei que você gosta muito de mim e acho que não deveria gostar tanto.
   - Mas por que está dizendo isso?
   - Olha, Re, nunca se deve gostar ou demonstrar que gosta tanto de alguém. Se você não entende agora o que isso quer dizer, com certeza, um dia entenderá.
   - Mas... Você acha que não gosta de mim o suficiente para estarmos juntos, é isso?
   - Claro que gosto de você, mas não do jeito que você gosta de mim.
   - Como assim?
   - Sabe o que é? É que o tempo passou, estamos há cerca de um ano junto, e mesmo assim ainda não consegui esquecer o meu ex.
   - Você ainda gosta dele?
   - Gosto, sim!
   - Mas então o que faz comigo?
   - Estou tentando esquecê-lo. Mas não consigo porque você não me ajuda em nada.
     silêncio por uns trinta segundos -    
   - Ah, Re, eu nunca te contei, mas a gente se separou gostando um do outro. Para falar a verdade nem sei exatamente o motivo da separação. Um belo dia nós nos encontramos e ele disse que não queria mais. Assim foi o fim. Apesar de ter sido um grande alívio para todos da minha família, foi muito traumático e difícil para nós dois, pois, mesmo depois de meses, a gente ainda continuava saindo como namorados sem sermos mais namorados e sem que ninguém soubesse.
   - Eu não estou entendendo...
   - Então... Na verdade ele não brigou comigo e sim com o meu pai, tudo ficou muito difícil pra gente a partir daí.
   - Bom... Sendo assim por que vocês não tentam reatar a relação e eu saio fora?
Parou por um instante... Ficou pensativa como se tentasse uma resposta que tivesse alguma lógica.
   - Eu não me vejo mais com ele! – arrematou secamente.
   - Agora temos um problema aqui. Como irei continuar com você já que gosta de outra pessoa e somente depois de praticamente um ano vem me contar?
 Novamente silenciou enquanto ficamos ali olhando o sol se pondo no horizonte.
  Depois de minutos naquele silêncio de inconformismo nos dirigimos para a barraca de camping, onde fomos deitar para um leve cochilo.
   Ah, minha adorável Miss C, você se lembra que cerca de uma hora depois acordamos cheios de desejos? Foi maravilhoso aquele momento quando arrancamos toda a roupa bem depressa e fizemos amor como dois insanos. Depois daquela conversa dura a coisa mais importante que poderíamos oferecer um ao outro naquele momento era sexo, deveras, com uma cumplicidade exclusiva e eletrizante, completamente aberta ao mundo e às novas sensações. As luzes coloridas refletidas na nossa pele alterava os pensamentos desejosos de prazer. Nesse minuto não havia mais os sonhos roubados do ontem e nem aquela jovem frustrada que carregava a dor. Você era tolhida de impacto por uma pesada ancora que balançava mergulhando no seu mar caudaloso e fundo para lhe fazer feliz por alguns instantes. A luz da vida estava ali em cada movimento, em cada energia que entrava e saia através daquele instinto animal. E com aquele ato desbravávamos os caminhos, o cheiro era bom e excitante como o cheiro do fruto proibido no jardim do éden. Aquele perfume se espalhou por todo pequeno ambiente e o seu corpo era o templo a ser cultuado. Era essa a toada no único momento em que eu percebia alguma meiguice nas mentiras que pareciam verdades na sua entrega. Eu era um tolo que se deixava envolver por apenas sexo com a embalagem de “fazer amor”. E assim o império do medo se perpetuava novamente com o terrível veneno da sedução. A minha crença residia no fato que os seus lábios entreabertos esboçariam mais um leve sorriso; um sorriso de paz no ritmo da evolução rápida nos movimentos da musicalidade corporal.
    Eu sentia o mais puro ar da noite e dele me alimentava. Diante dos meus olhos estava o seu corpo no desejo mais intenso, um desejo em carne e osso que me fazia tatear suavemente sua flor com pétalas sobrepostas. Nesse exemplar majestoso havia dobras maiores e menores, umas aparentes, outras escondidas e cheias de encanto. Dalí vertia o líquido mais precioso facilitando a condução da seiva da vida; alimento primordial da sexualidade intensa. Ah, Miss C, lembra como a língua se tornava inquieta nos caminhos para além de um simples lambuzar? Ela era forte e destemida quando o seu corpo vibrava e de repente se esticava de uma só vez com aquela coisa sem controle escorrendo para fora e lambida aos poucos, depois, no final, selando o frenesi com um beijo apaixonadamente na boca molhada. Em cada novo aperto uma nova sensação estonteante modificando o ar que respirávamos. Esses lábios escondidos iam mantendo os velhos segredos na memória enquanto iam delicadamente esticados com os dentes - novas e antigas sensações estimuladas pela circulação ligeira que virava febre sem cura. Estávamos no mundo de encantamento feito para dois, um mundo desvendado nessas novas sensações e se definindo aos poucos numa motivação que levava a outra. Os dedos continuando na busca, tateando, escorregando devagar, afastando cada pétala da flor querendo desabrochar em busca de qualquer emoção que tirasse o marasmo. Foi na realidade desses desejos que pôde perceber que a sinceridade não deveria ser falsa, principalmente na forma daquilo que a penetrava, mexia e cutucava fundo. Depois do último aperto, um único suspiro. Momento sublime, olhos fechados e o corpo contente num breve instante. A flor em sua beiradinha e profundidade guardou o segredo por onde a realidade escoou  revelando a verdade dos desejos inconfessáveis. Então, por um instante, o esboço do seu sorriso motivou enorme prazer em mim, clareou o ambiente. Essa foi a única alegria que  pude lhe proporcionar de verdade, minha adorável Miss C.
    Preciso encerrar por aqui. Hoje não estou escrevendo muito bem devido ao efeito dos remédios que enfraquecem o meu pensamento. Por favor, desculpe os erros de gramática e das ideias meio embaralhadas. Na próxima mensagem estarei melhor para contar a motivação da minha escolha em mandar mensagens tão longas e descritivas.

Que Deus esteja sempre com você .

Do seu mais profundo admirador.

                           Re.

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