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quinta-feira, 11 de junho de 2020

Dear Miss C Capítulo 12

     Depois do sexo diferente e da boa conversa tentamos o sono profundo para o descanso do corpo e do espírito, Nina se aconchegou em forma de conchinha, jogou o lençol por cima e dormiu rapidamente, eu nem tanto. A madrugada era quente e abafada. Olhei no celular dela e já eram mais de três e meia da manhã, havia só o silêncio do Camping. Eu suava em bicas no interior da barraca, o que me fez perder o sono - necessitava urgentemente respirar ar fresco. Resolvi sair para encher os pulmões e sentir no rosto um pouco da deliciosa brisa da madrugada soprando da serra do mar. Notei que a poucos metros estava Zé Louco sentado numa pedra. Ele olhava para cima e admirava o céu de estrelas e a lua bem clarinha.

- O que faz acordado, Zé?
- Estou olhando a estrela cachorro.
- Oi? Que estrela é essa?
- E aquela ali que tem brilho mais forte.
- Sério? Pensei que fosse um planeta, talvez Vênus.
- Não, meu véio. Vênus está mais para o horizonte.
- Você parece bem familiarizado com essa tal estrela cachorro. O que ela tem de tão importante?
- Olha meu véio, eu acho que todo mundo tem certa admiração por ela. É a mais brilhante do céu e a mais próxima da terra, pode ser vista em qualquer hemisfério do nosso planeta. Dizem que se você viajar na velocidade da luz chegará lá em pouco mais de oito anos e meio.
- Certo. Informação super interessante. Mas o que isso tem a ver com a nossa vida? Não estou entendo por que você a admira tanto.
- O meu olhar não é exatamente para ela e sim para uma irmã anã que orbita em sua volta. É chamada de Sirius B e não pode ser vista a olho nu.
- Ué? Essa eu entendi menos ainda. Se ela não pode ser vista então por que você está olhando para o céu?
- Procuro desvendar mistérios.
- Que mistérios?
- Aprenda meu véio: tudo na nossa vida tem que ter um significado cósmico. Há cerca de cinco mil anos os africanos já conheciam Sirius B. Eles não só sabiam da sua existência, mas também da sua localização e órbita. Naquele tempo não havia instrumentos astronômicos capazes de um tipo de descoberta assim. Todo conhecimento era transmitido por ancestrais, de geração a geração. Isso não é incrível, meu véio?
- Interessantíssimo, é mesmo um mistério intrigante, mas por que você está com essa obsessão tola?
- Não tem tolice nenhuma. Estou imaginando o universo macro e micro e a lógica que existe nisso.
- Acho que você está ficando maluco. Chupou daquela balinha de novo?
- Presta atenção! Os nossos ancestrais receberam o conhecimento detalhado da existência de Sirius B, através de alienígenas que visitaram a terra, assim como toda a ideia e conhecimento sobre cosmologia. Esses seres vieram do sistema de Sirius A, que é uma estrela com cinqüenta por cento a mais de tamanho do nosso Sol, e luminosidade vinte e três vezes mais intensa.
- Por que eles vieram de Sirius?
- Apenas pela proximidade. Só isso. Eles estão esperando a nossa evolução. Talvez espiritual... Um dia o nosso mundo será habitado por uma população feita de plasma.
- Isso é um exagero.
- Talvez seja, ou talvez não. No fundo eu acho que existe algum tipo de porta, uma rachadura na realidade perene que ainda não somos tão desenvolvidos para alcançar. Uma passagem que questionará nossas filosofias fundamentais: religião, ciência e historia. Teremos possibilidade de uma percepção possível que não dominamos agora e que poderá nos levar a uma outra realidade consensual. Um lugar onde o que vivemos aqui talvez fosse invertido. Bem... Na verdade, tudo é um grande enigma, inclusive as mensagens que recebemos por telepatia e acreditamos que seja apenas mediunidade.
- Sei, sei. Bem complexo o assunto e as consequências em nossa vida que partem de uma estrela tão distante.
- É sério, meu véio. Nós nos comunicamos permanentemente com o universo e suas forças. Alguns são mais capazes, outros menos. Todos têm essa capacidade. Pode acreditar que viemos do espaço e para ele voltaremos.
- Meu Deus! Sinto muito, mas não consigo acreditar que tudo seja tão simples assim. Acho até que existem entidades invisíveis ou coisas do gênero, mas levar esse tipo de pensamento como lei da vida não é nada lógico.
- Meu véio, não existe nenhuma lógica em viver, vivemos porque vivemos e pronto. A lógica está em nossos pensamentos e atitudes. Pense se vale tudo o que tem feito por si mesmo. Será que a sua viagem ao desconhecido vale a pena? Será que se embrenhar no meio da selva em busca de um buraco trará a solução para os seus problemas? Você tem uma grande provação pela frente. Os extraterrestres de Sirius me contaram. Só por isso eu sei dos seus medos e amarguras. Você talvez não tenha percebido, mas o seu pensamento foi jogado no universo há tempos, ele flutua pelos ares, pelos lugares e pessoas mais insólitas que você jamais seria capaz de imaginar. Logo voltará, em breve chegará a você com as soluções que espera, mas tenha cuidado com os seus instintos e pense antes de fazer qualquer coisa e analise tudo o que tem a perder deixando que a fraqueza o domine ou tudo o que tem a ganhar com a desistência do que considera justo. A vida é um enigma, encontre a solução e vá adiante. Não se esqueça da lição anterior na qual havia o pássaro e a flor: encontre o seu ponto. Eu estava aqui a postos, esperava que saísse da barraca para transmitir esse conselho, quem sabe de agora em diante você finalmente esteja totalmente são e livre. Sei que não deseja perder certas oportunidades que parecem desafiadoras, mas é melhor que não faça como pensa. Olhe para cima. Veja Sirius, ela é como a projeção da nossa alma em trânsito, ela energiza o nosso mundo de pensamentos de uma forma muito positiva. Olhe para ela e apenas sinta a energia do cosmos que isso despertará a sua alma para que não piore as coisas. Talvez o melhor que tem a fazer é esperar calmamente que tudo mude, que todos os ciclos se rompam nos laços emocionais que você mesmo criou, mas um dia, em breve, serão desfeitos. Siga o que diz a palavra sagrada no começo de tudo:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.

     Durante mais de meia hora ficamos observando a mudança de cenário no céu. Zé louco entrou numa tagarelice sobre seres extraterrestres e galáxias distantes. Quando ele tentou abordar o assunto sobre nossas origens oceânicas, acabei cochilando de tão cansado. Já entediado com a conversa, pedi licença e voltei à barraca para pelo menos mais uma hora ou duas de repouso. Nina não havia se mexido, então aproveitei para abraçá-la até que o corpo relaxasse outra vez. O próximo momento da minha lembrança, minha musa, é a hora do café da manhã coletivo. Praticamente todos acampados se dirigiram à mesa onde havia bolos, pães, frios, margarina e frutas de época - cortesia dos organizadores da noite do Rock & Roll. Ficamos assim dispostos: Nina do meu lado direito (abraçadinha comigo e só ouvindo a conversa), Nanda do lado esquerdo e em seguida dela Tom. Na frente: Zé louco, Simone e os dois amigos de São José do Rio Preto que nunca lembro os nomes.
- Caralho! Quanta coisa! O pessoal caprichou nesse café da manhã – admira Zé Louco.
- Tem lugar que a gente vai e o povo nem se preocupa se estamos com fome. Outro dia no Camping em Arthur Nogueira tivemos que procurar uma padaria – Simone completa o raciocínio de Zé Louco.
- Essas coisas acontecem... Diz Nanda... Tem lugar que recebe bem os visitantes e outros nem tanto. Essa vida da estrada é assim mesmo. Ah, uma coisa: acordei no meio da madrugada com uma falação perto da minha barraca. Reconheci a sua voz, viu Zé?
- Só a minha voz? O Re e eu estávamos olhando as estrelas. Mostrava a anã branca para ele.
(Todos riem até quase engasgar)
- Você estava mostrando a sua anã branca para o Re no meio da madrugada? – Tom não perde uma piada – Vem cá! Conta pra gente. Ele admirou bastante a sua anã branca?
(Novas risadas).
- Admirou sim, meu véio! Tanto que quase tocou nela com a pontinha do dedo. Mas foi só numa viagem astral. Você também quer tocar a anã branca de verdade? Se quiser eu mostro onde ela está agora.
- Não Zé! Vamos esperar a noite chegar, aí tudo fica mais romântico – Tom arremata ironicamente com risadinhas no final.
- Cadê a caminhonete, meu véio? – me pergunta Zé.
- Não tenho mais a caminhonete.
- Vendeu?
- Sim. Precisava do dinheiro para pagar a clínica.
- Ouvi dizer que esses tratamentos são caros.
- Verdade. Foram mais de vinte mil reais.
- Pelo visto você já está recuperado. Esse passeio está sendo uma boa terapia. Não acha?
- Está sim. Saí de casa praticamente com uma mão na frente e outra atrás.

- Meu véio, você precisa voltar à sua vida normal. Seria legal se voltasse a andar com a gente. Venha para nossos acampamentos de fim de semana. O próximo é daqui quinze dias no Guarujá.
- Então Re... Nanda aparta bruscamente... Olha só que grande sugestão do Zé! Espero de verdade que tenha entendido que nós queremos o seu bem. Nós torcemos por você sempre. Aproveite a oportunidade do nosso reencontro e volte a andar com a gente por uns tempos.
- Olha, Nanda. Vou pensar... A prosa está boa, mas agora preciso ir. Vou desmontar a barraca, arrumar tudo direitinho para seguir o caminho até a caverna dos morcegos.
- Não vai mesmo desistir dessa aventura? Fique mais um pouco aqui conosco – insiste Nanda.
- Não posso, tenho que aproveitar bem as horas do dia claro. Hoje está mais fresco que ontem, será bom para andar.
- Quando pretende voltar? – Nanda preocupada.
- Não sei.
- Leve a barraca e o colchão. Você vai precisar.
- Está bem, eu levo e agradeço. Quando eu voltar para casa ligarei para cada um de vocês.
(Nesse momento Nina se soltou do meu braço olhando diretamente dentro dos meus olhos para dizer o inesperado)
- Posso ir com você?
- Hein? Por quê?
- Por que eu gosto de aventuras e adoro conhecer lugares que nunca fui. Já ouvi falar dessa caverna. Faz tempo que queria ir até lá, outra vez que vim dançar aqui ninguém quis ir comigo. Todo mundo diz que a abertura principal é no formato da genitália feminina. Há anos estou curiosa para ver de perto. Aceita minha companhia, vai... Aceita? Vou tomar banho e volto logo, me espera, ok?  Então, Re, por quê não aproveita e toma banho também para tirar essa nhaca noturna? - arremata Nina com um sorrisinho malicioso.
- Sério? Tô fedido? Pode deixar. Vou fazer isso já já.
- Está bem, mas antes do banho me responde se posso ir junto com você.
- Não sei... Não sei mesmo! Vou pensar. Que tal me ajudar desmontar a barraca e dobrar tudo bem dobradinho antes do seu banho? Aí vamos conversando a respeito disso.

Fico por aqui minha musa. Desejo que esteja protegida pelos olhos de Deus.

Re.

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Minha história gira em torno de mim mesmo, — uma vida quase nas portas do delírio na mente de muitos —, com o intuito único de conti...