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domingo, 17 de maio de 2020

Dear Miss C Capítulo 05

     Minha querida Miss C

    Enquanto terminava uma nova mensagem havia movimentos lá embaixo. Um entra e sai com portas batendo e burburinho de conversas soltas. Todo meu equipamento estava preparado para fuga imediata. Ouvi alguém dizendo: - A senhora é a mãe dele? Peço que vá até ao balcão preencher o formulário!
       Aproveitei o momento  de distração e coloquei a tralha pendurada nas costas e subi escondido pelos fundos do recinto, escalei o muro e segui até a rua de cima. Levei comigo as últimas notas de dinheiro que escondera dentro do livro "O morro dos ventos uivantes de Emily Brontë", era pouca grana para qualquer destino, mas nunca precisei de muito para sobreviver. Subi num ônibus no terminal rodoviário que me trouxe até São Paulo e na mesma noite segui para a pequena cidade de Salesópolis. 
     Já era madrugada quando caminhei pelas ruas solitárias em busca de um abrigo, procurando um lugar onde pudesse ao menos dormir em paz. Fui andando por uma rua de chão bruto e matagal, sem qualquer casa dos lados. A névoa fria começava cair enquanto um chuvisco gelado deixava o meu humor péssimo. Assim, a passos firmes, com a mochila dando a sensação que pesava o dobro, eu me embrenhava dentro da escuridão. Os pés doíam muito quando do lado esquerdo avistei um casarão abandonado caindo aos pedaços. A trilha até a porta era de mato alto, e aquilo que eu achava que era uma porta, ao olhar mais aproximado, era apenas uma tábua velha solta e parcialmente escorada. Fui sala adentro, com muito cuidado, até chegar no corrimão de uma escada que não existia mais. O chão de tijolo era gasto e úmido; muito sujo por enchente recente. Havia muitas folhas de papelão enrugado empilhado na parede, estiquei alguns no chão, bem no cantinho, desdobrei o cobertor de campanha que trouxe enrolado e, por segurança, recoloquei a tábua / porta bloqueando a entrada principal pelo lado de dentro. Era um lugar bom e protegido para ficar até de manhã. O meu objetivo era a caverna que conheci na época de adolescente - tempo bom em que andava em busca de aventuras com uma turma de moleques e meninas roqueiras. A fome apertava. Retirei as botas surradas que amassaram os dedos mindinhos; foi com grande alívio ao esticar e estalar todos dedos dos pés. Ah, minha musa, o que aconteceu a seguir foi surpreendente. De tanto cansaço caí logo no sono e os sons que ouvia eram muito reconfortantes. Algo vagamente delicioso e ligado às nossas primeiras descobertas; momentos das únicas e definitivas verdades que conhecíamos e que libertou a mente para um desejo compartilhado. Quando, o mais importante disso tudo, nesse jeito simples de ser, entregues a nós mesmos, era que não havia limites na oportunidade de explorar cada detalhe que guardávamos em silêncio. Era sexo vivo! Nossa primeira e única coisa a ser praticada e sonhada com ternura. Era algo tão novo para nós, naquela forma de entrega, que não definíamos ao certo se era um sonho real ou a representação dele nos corpos se movimentando na penumbra. A derradeira coisa que sei agora, é que eu via apenas o que era vivo e se mexia, não captava a essência e o poder daquela coisa estranha que passava por dentro de nós como se estivéssemos um ligado ao outro pela eternidade. Não havia sangue, nem de menstruação e nem de ferimento, apenas um rastro, não havia mais vida porque estava tudo se coagulando e tornando-se uma geleia, uma massa estranha e disforme fazendo aos poucos uma consistência rústica por dentro e por fora. Não havia nada além de nada naquela normalidade. Apenas a sabedoria de alguém que deveria reconhecer os perigos de enraizar-se nesses momentos, esperando daquele ato um significado perpétuo do milagre nunca alcançado. 
  Ah Miss C, tudo andava tão complicado na minha mente no nosso tempo. Eram imagens do céu e estrelas em confronto com a escuridão que nos rodeava. As galáxias se chocavam nos princípios do meu eclipse notívago momentâneo e sublime; era a pura distração nostálgica dos nossos tempos. Essas imagens não eram tão comuns e nem mais uma história aventureira sem sentido óbvio. A única e verdadeira música que escutava era da sua voz pedindo mais, mais, mais... Chovia lá fora, nós ali juntinhos dentro do carro; nus e disposto ao confronto do prazer. Ao redor barracas de camping com capas de chuva movimentas pelo vento feito bandeiras e bandeirolas, os vidros embaçados do carro eram como cortinas dos nossos movimentos. Sexo... Fúria, loucura e paixão. Corpos nus rolando e batendo nos cantos... Molas rangendo, chuva batucando no teto ao ritmo da nova dança. O suor descia no ambiente que esquentava cada vez mais; suas pernas se entrelaçavam sobre a minha cintura e era o céu. Você me puxava mais forte para dentro, cada vez mais dentro e fundo, cada vez mais os corpos apertados e grudados um ao outro como as duas faces de um velcro. E quando suas pernas afrouxavam e eu subia, saía de dentro, me punha de joelhos para você chupar e lamber todo o seu líquido que ficara impregnado em mim. Você ali, segurando com a ponta dos dedos, muito carinhosamente, com a pontinha da língua tocando na mistura da nossa essência. Em seguida, incontrolavelmente, me punha de novo entre suas pernas, erguia a pélvis me agarrando com as duas mãos pela cintura. Enquanto eu ia rápido você dizia: - Eu gosto mais devagar e depois mais rápido. Assim, assim, assim... Isso... Força! Mais força!
    A chuva não parava; raios, trovões e ventania. Nos corpos nus vergões cada vez mais avermelhados no aperto interminável. De novo mudando de posição. Agora você vindo por cima. Eu: o seu cavalo de raça; um animal que pode ter a elegância olímpica ou a eloquência selvagem; você: a domadora no momento decidindo como fazer. Em seus movimentos havia o instinto da natureza e a graça do prazer enquanto as coxas brilhavam naquele sobe e desce. O seu olhar era em busca do infinito, como se fosse aquele momento da consagração da vida eterna no céu e na terra. A nossa poesia não estava escrita e nem declamada, era feita de imagens silenciosas nas impressionantes atuações. Na verdade tudo aquilo faria mais sentido quando visto em várias dimensões; de onde se pudesse movimentar os ângulos e as energias atemporais que comandavam o nosso desejo. Ahhh Miss C, a graça que citei passou a ser negada por você no momento seguinte. Tudo novamente caminhava em torno do mesmo propósito apoteótico de renegar o amor para alcançar a felicidade. O nosso tempo natural era o nosso tempo sem fim na entrega dos corpos e dos carinhos que poderiam ser perfeitos - único lugar onde nos encontrávamos reconciliados e preenchidos pela dança da esperança de um novo alvorecer. A fé e a vida numa eterna dualidade se movendo por sinais divinos do mundo que criamos com projetos humanos e intuições poéticas preenchendo o momento em que Deus esteve presente em nossos pensamentos. E a visão de Deus profetizou o apocalipse dos nossos sonhos na eternidade. Então fomos levados para transcendência de um tempo que jamais compreenderemos; porque ir além da lógica nos atingia diretamente a alma em trânsito. Nonsense absoluto em seus atos, minha musa. A sua origem cristã nunca compreendeu a verdade do caminho da graça e do perdão. Você novamente me foi revelada de forma consciente e sutil nos sonhos; reconheci sua presença na sombra oculta da vaidade humana e no verdadeiro significado do paradigma da vida. Veja só como eram as coisas:
    - Re. Estou aqui. Olhe para mim. Sinta o meu corpo tremendo. Reeeee. Toque em mim e aperte. Alise o meu sexo como se fosse o veludo mais macio (Reeee... Eu odeio o barulho de roçar veludo). Aperta mais forte! Coloque o dedo em forma de gancho... Assim, assim... Isso... Mais para cima, toque mais em cima. Não pare! Passe o dedo nos meus lábios... Quero um beijo... Um beijo longo... Eu gosto do cheiro de sexo... Reee, eu vejo a cavalaria chegando. A chuva nunca pára... Isso... Toque o bico do meu peito... Aperte sem machucar... Estou molhada por dentro e por fora; é êxtase e tesão... Venha mais uma vez, quero te travar dentro de mim como uma cadela no cio... me chama de vadia! Assim... Mais um pouco... Vou fechar as pernas... Eu te machuco? Diga se apertar ... Agora. Assim, assim, mexe devagar para não sair... Mais um pouco... Força! As minhas coxas te apertam agora? “Ele” desliza bem sem sair de dentro? Quer que eu abra as pernas só um pouquinho? Hummmm que delícia!!! Eu quero que me foda sem pensar em mais nada... Por favor, pare agora um segundo... Fique quietinho por um instante. Não se mexa. O meu céu está repleto de fogos de artifício e estrelas cadentes. Estou numa viagem onde se vê o sol numa planície além do mar e todo o cosmo. Não existem mais fronteiras, nem razão para o sofrimento, apenas a razão em si norteia minhas sensações. Eu sou sua agora, meu amor!  
    Minha musa, minha musa...Você mentiu, iludiu... Transformou o meu arroubo poético nunca coisa irregular, descontínua e incapaz de ser levada adiante. Ignorou que a necessidade de vivência poderia ser o maior símbolo do nosso sucesso, você negou a tudo com o seu rigor extemporâneo.
      Ah Miss C, não há nada aqui que já não saiba, mas minhas palavras podem ajuda-la um dia - mesmo depois da pior cena que nos envolveu separando nossas vidas como em uma tragédia. Eu fui assim... Segui assim e me tornei o que sou diante da sua imagem distorcida. Caminhei na lembrança de estradas, ruas e parques floridos. Viajei pela marginal Tietê, Edgar Facó, Casa Verde e Imirim. Segui tantas vezes pela avenida engenheiro Caetano Álvares rumo ao horto florestal - a Serra da Cantareira e seus bares de namorados no meio da mata. E o trânsito da Zaki Narchi e da Av. Cruzeiro do sul? Eu queria tanto chegar perto de Guarulhos no horário marcado... O metrô e suas estações... A última estação era o seu pecado... Eu andei no bairro Jaçanã, Vila Galvão, cheguei até a Fernão Dias. A prima da minha mãe morava no largo Jaçanã, pertinho da rua da feira de domingo. Eu fui e voltei pela via Dutra, passei na Marechal Tito, no largo de São Miguel e segui até o Itaim. Eu vi a faculdade lá no alto do morro. Eu voltei e caí de novo na serra da Cantareira de onde avistei a avenida Paulista e suas torres piscando sem parar. Ah, minha adorável Miss C, com você eu vi caminhos que levavam para norte, sul, leste e oeste. Eu vi ônibus e carretas passando ao nosso lado, eu vi estradas desertas e curvas audaciosas no escuro da noite. Eu vi o arco-íris no horizonte. Eu vi numa noite a lua e seus continentes imaginários diante dos nossos olhos. Eu vi a roda gigante e o toboágua no parque de diversão mais conhecido do estado. Eu senti com você aquele calafrio na barriga quando descemos a montanha russa de madeira enquanto o seu rosto batia no meu ombro. Eu vi a via Láctea e os helicópteros sobrevoando os incêndios florestais. Eu vi o seu lanche do McDonald´s na bandeja. Eu vi o seu corpo nu... Conheci o seu sexo por dentro em cada parte. Eu vi o monte Fuji no discovery channel e a esplanada dos ministérios repleta de gente louca. Eu ouvi vozes repetindo: 
“Nós ignoramos você!”, 
“O que você quer é colocar a gente contra a nossa irmã!”, 
“Eu ainda amo o meu ex!”, 
“Vá embora da minha casa agora!”, 
“No que você trabalha mesmo?”, 
“Vamos denuncia-lo à polícia!”, 
“Você expôs a todos a intimidade da minha irmã!”, 
“Não nos interessa a sua origem”! 
“Cale-se, canalha”! ......... 
“Não é da sua conta se ela tem problemas psicológicos!”............
"Re, eu não posso ver sangue que eu desmaio". 
     Minha adorável Miss C; assim andamos, dormimos e comemos juntos. Íamos para cama praticamente no amanhecer e acordávamos enfiados um no outro. Era quando o planeta parava de girar e o sol ficava coberto por uma nuvem espessa. E através de um buraco no céu cantávamos delirantes e desafinados, era a cantiga das mais baixas profundezas onde a vida estava regrada por uma grande foda do rato na gata do signo de coelho. Eu observava com a máxima fascinação como a sua fenda se abria e fechava a todo vapor, e quando finalmente os lábios cansados ficavam separados. Logo em seguida, bem do meio, escorria um fluxo de esperma como se um touro tivesse copulado com você.
     Minha musa; lá fora persiste o escuro e meus pensamentos não param de girar na cabeça. Ainda há em minha cabeça uma música que não desiste de tocar em repetição. Eu sei que se um dia ousasse dizer essas coisas a algum estranho, ele me chamaria de louco, mas eu sei que não sou louco. Talvez tal pessoa, com razão, fugisse de mim como você fugiu. Ahhhh.... Que saudades eu sinto de você, minha adorável Miss C. Mije depois da nossa foda, faça à vontade e com prazer, corra até o banheiro e seque direitinho essa fenda que nenhum chumaço grande de algodão conseguiria tampar. Esse é o seu campanário que atrai fiéis. Faça amanhã de novo, comigo ou com outro, tanto faz... Faça até fartar-se de tanto foder. E faça o mesmo depois de amanhã e no dia seguinte. Um dia, eu lhe digo com convicção, ainda sentará novamente no meu colo e buscará a posição do encaixe perfeito do seu mundo sem fim.
   O dia quase clareou, vou procurar dentro da mochila algo para comer e um lugar na beira do rio para me banhar nas águas geladas.

Que Deus esteja sempre com você acalentando o seu espírito. 
Do seu mais profundo admirador.

                      Re.


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Minha história gira em torno de mim mesmo, — uma vida quase nas portas do delírio na mente de muitos —, com o intuito único de conti...