quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Revenge!!!

     


   Seus olhos são vivos, praticamente uma vivacidade doentia. Neles percebe-se que tudo está decidido. É o que é possível notar nesse momento diante da luz que brilha fraca no teto. Há uma certa doçura em sua postura soberba, uma magia estritamente sedutora. O seu sorriso ás vezes é um sorriso contido e reprimido pela falta de entusiasmo nas ações de repetição obrigatória. Vive numa evidente excitação inconformada pelo momento mais sublime da entrega e viaja pelas nuvens onde nada mais importa além do seu sonho de felicidade. Mesmo assim abre bem os olhos para não perder de vista as feridas do passado, pois nunca teve coragem de se desenlaçar de tudo. Lembrar de alguns fatos é como se a morte estivesse presente, mas não treme e nem fraquejava ainda que tenha o coração sagrando. Nunca imaginou que o amor não seria eterno e vivia como se a vida fosse inacabável. Mas tudo tinha seu preço na escalada do destino. Seus olhos ansiosos pressentiram o que seu corpo sentiria na pele branca. Seus lábios agora queimam e seu pensamento arde num desejo incontrolável na mistura de espiritualidade com êxtase sexual. Isso deixa sua mente alerta e o corpo vivo na desenvoltura ingenuamente aflorada e no despir-se com naturalidade. E de forma despreocupada deita-se na posição correta para o encaixe perfeito. Seus olhos ainda mantém as olheiras da noite anterior quando até os seus cabelos foram beijados de maneira cuidadosa. Ao novo toque de dedos estranhos em seu sexo sente no rosto uma lágrima solitária que vai desenhando o caminho do fracasso. Por esse labirinto sem o fio de regresso a mente vagueia e pede misericórdia enquanto ao mesmo tempo implora algum prazer. É nesse decorrer de dessa angustia tardia e desesperadora que torna-se visível o seu delírio de paixão. Conhece a si mesma pela força de vontade de seguir em frente com todo o poder do prazer da carne em devassidão em suas lutas noturnas e secretas. Só consegue suspirar raramente ou dar sorrisos abertos em sonhos bons e eróticos, único momento em que se consente ao prazer verdadeiro. Depois do seu momento único respira fundo e se prepara para uma batalha contra si mesma. Toma coragem e vai. E assim segue sua rotina diante de tantos olhos e corpos suados quando se permite devorar por horas a fio. Mas ainda há aquele eterno tom de suspiro para forçar o esquecimento. 

     O punhal continua sendo enfiado várias vezes em seu coração incauto e permanece por horas fincado ali. Tudo, desse momento em diante, transformava-se em uma profunda névoa em sua vida anteriormente regrada por pai e mãe. Os quais nem sequer poderiam imaginar que ela, em seu sacrifício de luxuria, traz consigo o seu último desejo real: a inspiração para continuar experimentando e experimentando cada vez mais, até sentir-se completamente saciada e entorpecida. Ela conseguiu para si a vontade de fazê-lo repetidamente por um tempo sem fim, até que viesse finalmente o verdadeiro alivio emocional. Em seu olhar vivo há o silencio da morte sentimental, onde mais nada sobrevive além do rancor que existe em sua visão a respeito do mundo e das paixões eternas. Por muito tempo está assim. Seu único desejo aparente é a vingança. Sua atitude poderá parecer repulsiva e sem explicação lógica para a tal situação, principalmente quando geme como se fosse uma criança inocente ou uma prostituta. Sua noção da vida não é perfeita enquanto o seu prazer está conspurcado pela degradação. Não há mistério ou delicadeza em sua entrega consecutiva e ordinária, quando todos os momentos passam rapidamente apenas o prazer momentâneo e a dor sem fim. Existe a imagem de algo que a distancia do pensamento lógico e a aproximava da lembrança da última fatalidade daquele dia em que chorou em desespero. Do dia da sua desgraça sente o efeito do remédio que criou para acalmar a própria mente que nunca se cansa de pedir justiça. Mas, apesar disso, em seus lampejos brilham focos de saudades logo que uma mão estranha pousa sobre seu ventre amplo e desnudo. No deslizar da mão estranha revela-se todo o mistério e delicadeza de um corpo exteriormente são, e suas memórias vão se tornando remotas a cada dia passado nessa mesma rotina. Presa dentro da gaiola que criou debate-se como um pássaro agonizante. Delira em seu maior momento de força interior na tentativa de resistência moral. Com todo um tipo de sentimento obscuro busca o desligamento. Consente a si mesma matar todos os resquícios de consciência de um passado surrado e vivido na ignorância do conhecimento dos fatos. Mas com tanto rancor na alma ainda persiste a dor mais intensa, a dor da perda. Torna-se irreconhecível diante de si mesma e de quem testemunhou um dia a sua vida em momento de felicidade. Nas trevas vive seu transe humano enquanto seu tecido carnal vai sendo rasgado, esticado e marcado. As manchas roxas aparecem pelo corpo. Em cada mancha a noção que sexo vingativo é uma armadilha cruelmente atroz contra si mesma. Sua vida não se expande conforme seu desejo, torna-se sim um martírio sem fim em uma ânsia desesperada por prazer que nunca chega e nem será como antes. O ódio misturado com ressentimento infiltrava-se em seu cérebro evoluído tornando-o uma máquina de produzir idéias destrutivas. Seu corpo é como se fosse um corpo sem sentidos. Todas as vozes do mundo gritam em seus ouvidos e ecoam distantes para quem queira ouvir que você não está bem. Em sua falsa excitação macera desespero num choro interior ao imaginar tudo que um dia foi puro. Sente-se tão só como em nenhuma outra oportunidade da vida. Assim permanece por horas e horas cumprindo seu percurso de esperança sem fim. Momento em que todos que quiserem poderão ser donos do seu corpo. E a cada novo participante é registrada ali uma nova mensagem que ficará marcada para sempre em sua lembrança.

    Ao focar nos olhos de cada novo integrante em busca do prazer gratuito, emite um olhar que não se define se é de loucura mansa ou ausência, até que seu coração pareça pacificado a cada nova vingança. O sexo vingativo sempre será determinado e cruel contra seu adorado do passado, aquele que se tornou um algoz por essa imagem gravada que tornou-se permanente na mente após a despedida final. Por isso que em sua ressonância profunda ainda sente os derradeiros calores do toque dele e a sensação na traição fatal no anúncio de adeus. Mantém a imagem dele como aquele que não teve integridade no amor e nem fidelidade no comportamento, enquanto o cheiro dele ainda impregna sua pele mesmo depois de anos. A poeira e o suor misturam-se na lembrança daquele cheiro acre natural no hálito mentolado das derradeiras palavras de despedida. E assim o mundo tornou-se triste. As razões seguiram pelo subterfúgio da dolorosa vingança quando, nesse determinado momento da vida, já não entende mais as verdadeiras razões do porque tudo aconteceu do pior jeito, justamente no momento em que mantinha a esperança de um conserto definitivo. Em seu falso encanto ainda repete mentalmente a mesma velha mensagem que ouvira em seu pior momento de crise. O perfume daquele homem vai se esvaindo da pele, tornando-se distante e mais nada se sabe sobre a verdade da vida dele. Por isso a vingança continuava. 
       Em cada novo deitar um eterno prazer que consume por dentro. E depois em voz alta chega a pergunta: “O que fazer agora? Que venha o próximo”. Todas as manchas amarelas continuam sobre o lençol, o colchão parece ensopado de líquido pegajoso. É um cenário em que os vermes rastejam nus pelos bastidores da vida e ela está mais uma vez com o coração leve por poucos instantes, mas flameja em lamentação interior, arde por dentro como a chama mais quente do inferno carregando consigo as culpas da falta de sintonia e entendimento. Levanta-se absolutamente entediada de tanto sexo aborrecido e admira sua imagem no espelho, toma uma dose de licor de cereja para que logo chegue a renovação e oferece encorajamento a si mesma com um simples pensamento de pureza e felicidade, pois seu desgosto é tão grande que não conseguiria expressar em palavras tanta tristeza.
        Em seu mais profundo suspiro chama o nome daquele com quem se decepcionou um dia. Em plena escuridão mantém a seqüência do vício fazendo tudo automaticamente. Enquanto novos olhos arregalados tentam admirar os seus seios pequenos, um corpo grande e suado balança por cima em um ritmo alucinado, seus quadris mexem junto e o pensamento mergulha em devaneios tentando esquecer o que acontece ali. Toda fúria se interrompe de repente e bumba! Tudo se acabando novamente. Em seguida começa outra maratona com o mundo desaparecendo sobre suas vistas. Dentro de si um membro rastejando e esfolando. É tudo tão incongruente nessa sua etapa de ilusão. Mas os fatos são sólidos, são falos e falos que a deixam eletrizada para ir tentando perder a apatia, mesmo por instantes. E em algum momento seus olhos saltam da órbita e alcançam o céu. E, então, essa coisa indescritível faz com que se lembre de outra; aquela mesma que a motivou a esse momento. O sexo vingativo finalmente está fazendo o seu papel. E pensa consigo mesma: ´´É fascinante quando se pode foder sem dar a menor importância à coisa alguma". Agora já não faz mais diferença com quantos ou em que lugar. O importante é esquentar o sangue, aguçar a fúria e adoçar o instinto de desforra. Seria interessante perguntar se há algum sentimento nesses atos, mas nem é necessário... Apesar da fúria, ainda faz de tudo para que prevaleça aquele cheiro de limpeza; fragrância de sabonete na pele branca junto com perfume vagabundo.
Dentro da mente é como se cada um estivesse lhe fazendo um imenso favor e age como se com isso pudesse ir tirando aos poucos alguma coisa da sua consciência machucada. Por isso o mundo inteiro deve agora ser mudado do mal para o bem instantaneamente, mesmo que seja pela árdua tentativa da busca dos raros sete segundos. Parece-me absolutamente intrigante que alguém possa agir assim com tanta riqueza de detalhes nos atos e com enorme inspiração nos pensamentos em seu próprio prejuízo. Mas, nessa luta constante contra uma sombra o prejuízo total já foi consumado há tempos. O suco do gozo íntimo ainda flui entre suas pernas a fim de provar a si mesma o quanto, apesar de tedioso, pode ser gratificante o sexo vingativo. Se alguém quiser experimentar algo assim que seja sutil, finja ciúme, mostre se preocupar e dê presentes para embarcar na fantasia do sexo vingativo, pois ela adora mimos. 
      Mas vá com cuidado, saiba que ela não se importa se há amor e nem deseja compromisso, quer apenas ser fornicada como animais fornicam. Não se preocupe com nada porque ela fará tudo; poderá até lhe dar uma palmada, mordida, arranhão ou balbuciar um elogio que você é o máximo. No entanto, é melhor ficar atento saindo logo de cima quando acabar e cair fora com as calças na mão, pois, caso se apaixone, é porque foi contagiado e será o próximo a praticar o sexo vingativo com o mesmo pensamento, disposição e o mesmo agir. 

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