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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

O Pecado Capital Parte 02

                                           EPISÓDIO 2 (COMPUNÇÃO)

     Eu vi algo em você que jamais havia observado em outro homem. Vi o reflexo distorcido da minha própria imagem quando eu era apaixonada por ele.
     Tentei a todo custo não acreditar nisso com seriedade, pois seria como revelar o meu verdadeiro segredo - aquele que passei a vida inteira tentando esconder de mim mesma – as loucuras que fiz por amor.
     Eu sempre quis mostrar a você que eu era forte, não porque fosse uma mulher de opinião, mas sim porque sabia fazer o uso da força mental a meu favor. Porém, eu sabia que se me deixasse dominar com seus encantos, eu me sentiria totalmente capturada por seu charme. Talvez, por medo, fui pelo caminho errado e os pensamentos transformaram o belo em horroroso. Eu imaginava que seria melhor uma atitude monstruosa que liberta do que uma vida monstruosa que acorrenta alguém para sempre. Eu estava louca! Eu me sentia grande demais para parecer satisfeita com um relacionamento comum, precisava de mais. Precisava ir além daquilo que chamamos de dor. Eu queria fazer alguém sentir a dor da alma que senti, a dor de ser rejeitada por ele. Queria transferir por união química todo o veneno que me corroía por dentro.
     Eu sei que poderia ser bonita por fora, tinha todas as virtudes femininas admiradas pelos homens nos meus trinta e poucos anos, mas, o receio de demonstra-las publicamente me deixava estranha. Eu passei a ter uma postura dura que ia contra o que uma mulher busca do amor terno e da aceitação masculina.
     Eu reconheço que havia em mim toda a força do desejo na prática sexual com você – eu estava me soltando aos poucos no tempo que ficamos juntos. Acontece que por dentro eu estava tentando provar a mim mesma que era mais esperta que qualquer homem na face da terra. Eu me gabava da minha esperteza e me sentia grande demais para compartilhar da mediocridade alheia. Como fui tola! Nunca tinha parado para pensar que não era tão inteligente o quanto parecia. Por que, se fosse, jamais teria vivido por anos subjugada mentalmente por ele e, ainda assim, me achando dona da situação. Nunca teria esperado por ele tanto tempo desnecessariamente. Tempo para me  formar na faculdade, tempo para trabalhar, tempo para juntar dinheiro, tempo para esperar um momento mais adequado para casar. Jamais teria dado todas as minhas economias, nem emprestaria o meu nome aos seus parentes para compras a crédito, tampouco, acreditaria nele em nome de uma causa maior. Jamais teria aceitado a traição e agiria como se nada tivesse acontecido. Não diria a ele que nunca havia pensando em outro homem e que ele era o meu único sonho de vida.
     Nunca me dei conta que era escravizada sexualmente e mentalmente por ele, nunca pensei que fosse apenas parte de um jogo sedutor para dominar minhas vontades, porque simplesmente eu o amava.
     Eu não deveria me render como fiz – eu tinha tantas armas na mão. Só que ainda não havia aprendido que o mais importante era tentar dominar a mim mesma antes de tentar dominar um homem inteligente como ele. Abri mão de ardis femininos e aceitei suas tramas elaboradas. E mesmo que tivesse recolhido todo o meu orgulho intelectual por um tempo, jamais teria me submetido a tal situação. No fundo eu estava pior que uma pessoa cega que caminha sem bengala por uma rua esburacada. 
     Depois de todo o caos que eu vivi, passei a ser do tipo que não se deixa enganar por falsos encantos, muito pelo contrário, passei a ter um objetivo traçado em cada passo. Caso aceitasse um novo homem em minha vida, seria porque estava carente e sentia necessidade de sexo e atenção. Mas se ele fosse uma porcaria na cama, como foi aquele cearense meio bronco com quem saí umas duas ou três vezes, com certeza, não daria muito certo. Confesso que durante um tempo passei a usar os homens apenas como um instrumento da minha satisfação. Eu tinha sido tomada por um estranho impulso que nem sei de onde surgiu. Mas como a minha vida sempre foi feita de incidentes inexplicáveis nem me perturbei tanto com essa questão. Jamais eu saberia explicar porque tais coisas aconteciam comigo. Sei que é ridículo dizer algo assim, mas é a pura verdade. Se qualquer pessoa me contasse uma história como essa eu não acreditaria em uma letra sequer. Mas estou certa que nada disso me aconteceria caso ficasse presa dentro de casa esperando o destino bater à minha porta. E o pior de tudo é que sempre encontrei  pessoas com as quais me identificava, mas da classe social que a minha família ignora. Parece que tenho algo que as atrai, ou que ao mesmo tempo faz com que se submetam a mim. O fato de ser muito curiosa em relação à vivência dessas pessoas traz um certo charme misterioso na atração que elas têm por mim e eu por elas.
     Mas, quem eu queria não conseguia atrair de forma definitiva, por isso me chateava com facilidade. Ficava tão deprimida com as negativas dele que acabava ficando com vergonha de mim mesma. Não me sentiria assim se recebesse o valor que sempre esperei ou se ele tivesse me dado algum valor!
     Hoje minhas expectativas vão além de quem acha que um simples sorriso pode me conquistar. Todos ficariam surpresos quando me vissem correndo pela vida por pura empolgação. Talvez alguém que passou a me ignorar finalmente visse algum valor na minha mudança de atitude. 
     Com o passar do tempo chegou um pressentimento, algo que me acompanhava quando estava com o ele. Eu sabia que a qualquer momento eu o perderia e talvez nunca mais voltássemos a nos falar carinhosamente. Sabia que o perderia por amar demais. No fundo, minha conduta era de intransigência quanto aos “nãos” que ele me dava com grande freqüência e o jeito rude que passou a me tratar. O medo ia tomando forma dentro de mim, preenchia todos os lugares vazios e transbordava inseguranças. Tive muitas incertezas cruéis quanto ao seu comportamento - no inicio, ele era tão atraente e gentil, depois se tornou arredio e misterioso.
     Acontece que resolvi encarar aquela situação sem medo de sofrer, talvez tenha sido essa atitude que detonou a sua ira contra mim. Eu pensava inescrupulosamente, a minha base era o ódio misturado com o rancor que carregava dele após várias de suas tentativas de rompimento definitivo. Com esses ingredientes atropelaria quem me encarasse. Mal ele sabia que ninguém dá amor sem receber amor em troca, talvez, depois de praticamente 13 anos ele já houvesse esquecido essa lição. Os seus atos de abandonos freqüentes cheios de dissimulação me tornaram revigorada de forma negativa quando, praticamente, eu já estava descrente de tudo. Depois de meses de afastamento desempenhei o papel como uma boa criminosa o faz, fiz tudo no silêncio da dissimulação que aprendi com ele. Agi assim mesmo sabendo que esses atos fossem deploráveis e de intensa degradação para mim. O meu pai jamais poderia sequer imaginar que eu seria capaz de coisas que iam totalmente contra a educação que ele me deu. A minha mãe me alertou, eu não ouvi. Ela ficou hiper-chateada e rompeu comigo. Depois do acontecido ela estava transfigurada e completamente transtornada por eu não ter seguido seus conselhos. Falou num discurso interminável coisas que eu nunca imaginei que ouviria dela, enquanto isso, o restante da família me olhava com aquela mescla de piedade e zombaria que eu detestava. 
     De todos os males que sofri, a ausência dele no meu dia a dia era o menor de todos eles, pois eu também tinha que lidar com a instabilidade emocional desses membros da minha família que queriam a todo custo me corrigir.
     A minha caminhada em busca de novos objetivos na vida nem tinha começado, pois, havia um temor impessoal em relação ao mundo e a quem se aproximasse. Queria que todos fossem amigos das minhas tristezas. A minha cabeça estava como um porão cheio de miséria com ratos roendo restos do passado. Era uma festança interminável de tormentos que poderia durar a noite toda ou a vida inteira. Fiquei imaginando como poderia me apaixonar por outra pessoa carregando comigo a morte do meu mundo de sonhos. A noção aparente era a de que eu tinha um parafuso a menos.
    Raramente eu falava mais que duas ou três frases em meus novos relacionamentos que não contivessem alguma citação do passado. Eu me sentia como alguém de personalidade perdida no vácuo e congelada. Não havia em mim uma só fagulha de entusiasmo. As palavras eram confusas e misturadas - como se estivesse num jogo de achar palavra num emaranhado de letras.
      Por mais brilhante que fosse a minha massa acinzentada, alguma coisa não funcionava bem e precisava ser ajustada com urgência. O meu pensamento era um refém na mente irada que maltratava a carne. Eu não conseguia ordenar os pensamentos e agia continuamente sem saber a hora de parar. Não imaginava que poderia assumir um outro aspecto, ter uma outra perspectiva de vida e aprender a amar novamente. O meu grande ideal de encantamento era para o mal. O mal deixando para trás rastros de ódio. Eu me tornara alguém a ser evitada e odiada pelas pessoas. Porque, cada corpo que se deitava sobre o meu, não sentia mais que um cadáver no mármore do necrotério. O meu corpo não reagia e nada transmitia a quem se sujeitasse ao sexo sem graça que era oferecido.
     A dor daquele pensamento antigo não me largava – o meu pensamento dele com outra. O instinto me obrigava à entrega, mas meu olhar era sempre triste. Isso virou uma presença constante em minha vida. Eu ficava tão impressionada que sequer conseguia ordenar os pensamentos para o caminho certo. Olhava o que fazia e imaginava que mesmo sendo um cemitério ambulante, ainda tinha charme e poder atrativo, mas era desanimador não ter forças para mudar a dor da morte que tomava conta de mim.
      Muitas vezes eu imaginei que poderia me matar de verdade em qualquer daquelas noites, já que demonstrava todo o tempo que não tinha nenhuma razão para viver, exceto pela esperança de ter ele de volta ou, pior, poder me vingar fazendo com que ele sentisse dor pior que a minha com a minha ausência eterna. Por que eu ficava me iludindo? Eu poderia me livrar de toda a dor num simples ato de coragem. Muito sinceramente, eu achava que eu tinha essa divida com o mundo, com a minha família, comigo mesma. Deveria ter honrado! O meu pai já havia tentando se matar com uma arma de sua coleção por causa das minhas escolhas. Nada aconteceu, graças a Deus. Aquilo só ficou na ameaça. No entanto, foi um trauma para toda a família naquela época. Então, eu me imaginava dizendo: “Um dia eu farei o que ele foi covarde. eu me matarei. Sou apenas mais uma grande idiota no mundo que tem desejos impossíveis e que afetam os outros!”
     O que me segurava é que eu sabia que um dia o meu amor viria até mim em busca de um consolo, talvez viesse me pedir apoio emocional por ter brigado com a nova namorada 10 anos mais nova que eu. Mais cedo ou mais tarde ele viria chorar suas dores do amor não correspondido pela imaturidade dela. A minha sina era continuar muito viva para isso. Eu sabia que qualquer dia ele viria até mim. Nunca tive pressa. Um dia aconteceria e pronto. E aconteceu.
     Ahhh... Os ardis masculinos são diferentes dos femininos, mas também muito eficientes quando existe paixão e esperança do outro lado.
    Um belo dia ele me ligou e confessou suas dúvidas em relação aos sentimentos por ela. Então, ele parecia confuso, porém mais leve e bem calmo. Eu me senti novamente viva e disposta com a noticia. Daquele telefonema em diante eu mudei, fiquei com aspecto de gente bonita e feliz. Eu era uma mulher novamente encantada por um desejo realizado. Fiquei durante dias com  um sorriso perpétuo pregado no rosto; o que me deu total confiança na posição confortável em que me encontrava. Eu era uma pessoa entre um milhão que poderia novamente se sentir assim, eu era a escolhida dele, eu estava de volta ao jogo - ainda que fosse para uma finalidade ou outra do meu pensamento.
     Imaginei que formaríamos um lindo par romântico novamente e no futuro faríamos planos para nos casar e ter filhos, independentemente da vontade do meu pai e conselhos da minha mãe.
     Esperei muito por isso. Dentre tantos homens que me contemplaram e fizeram sexo comigo, ele foi o único que me fazia delirar com o verdadeiro prazer.
     Pois é, olhando você assim, nesse sono reparador após a nossa longa maratona de sexo, suor e rock and roll nessa noite de muita disposição, eu sei que me iludi mais uma vez com o pensamento impossível daquela reconciliação, ou do prazer da vingança que nutri tão intensamente. Imaginei que o tempo de ser acariciada no meio das pernas por algum estranho estava acabado e ele cederia aos meus encantos. Mas não foi bem assim, pouco tempo depois do que aconteceu nessa cena eu conheci você que agora inocentemente dorme ao meu lado enquanto penso tudo isso.
      Enfim... Eu sei que curti o melhor que pude aquele novo momento com ele.
     Nós armamos tudo direitinho: marcamos um encontro às escondidas da minha família e da namorada dele.
     Eu me lembro nitidamente da pele suave do rosto dele sendo tocada em meu rosto. Senti aquele tatear cuidadoso subindo lentamente pelo meu corpo naquela linguagem pegajosa que leva ao prazer. Ele conduziu a mão e os dedos por pontos cruciais que só ele conhecia. Aos poucos me elogiou e sussurrou baixarias bem baixinho no meu ouvido. Logo estávamos na cama completamente nus como antes. Ele enfiou alguns centímetros e eu me senti no céu. Estava satisfeita com o mais leve toque do sexo no sexo num pequeno tom de provocação. Abri mais as pernas e recebi tudo aquilo dentro de mim com uma emoção renovada. O meu problema era real e urgente – a distância que nos separou por tantos meses me consumiu e me deixou confusa numa profusão de sentimentos contraditórios sobre tudo. Ele parecia sentir mais tesão que antes. Isso me deixou totalmente encharcada. Eu queria gritar, mas silenciei. Interiormente pensei: “Agora estou completa, agora estou completa, me foda, me foda.... Somos dois e somos um.... Você me quer... Você é tudo de bom... Estou completa... me foda... Vai! .... foda... foda.... para sempre... Eu serei sua amante, serei seu joguinho e você será meu troféu, me foda como antes.. não pare! Enquanto você me amar talvez eu aceite ser a outra em alguns momentos da nossa vida!"   





Cansado e Velho

Minha história gira em torno de mim mesmo, — uma vida quase nas portas do delírio na mente de muitos —, com o intuito único de conti...