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quarta-feira, 3 de abril de 2024

Cansado e Velho


Minha história gira em torno de mim mesmo, — uma vida quase nas portas do delírio na mente de muitos —, com o intuito único de continuar um passatempo que começou no ano 2008. Essas escritas vieram sob forma de semanário no blog, e cada nova escrita trazia um pouco da minha vivência e de como se deu a experiência no contato com outras pessoas. O objetivo inicial era claro, mas no decorrer dos dias a minha percepção da realidade foi se alterando, até chegar em um ponto que só consegui relatar sobre as questões nas quais estavam a existência humana mais cruel e degradante. Talvez meus relatos possam parecer desoladores e intrigantes, mas o processo pelo qual passei, aprimorando esse método, foi uma espécie de despertar da consciência, seguindo-se sob a forma de, inicialmente, existir um sentido e, posteriormente, não existir sentido algum. No início busquei cumprir aquilo que eu mesmo me determinei; depois, a existência, no geral, passou pelos meus olhos carregando uma insignificância extrema, coisa que retratarei no desenrolar e ao final desse texto, mas não foi e não será de uma forma tão esperançosa e com final feliz como muitos desejariam. A partir de então, não será necessário ser um grande observador ou estudioso das palavras em filosofia para conseguir absorver a essência do que vai aqui. Basta ter um pouco de afeição pelos dizeres e se omitir por um instante da realidade comum na qual praticamente todos estão inseridos, e assim compreender que às vezes os planos podem não ser da forma como desejamos ou planejamos com antecedência. Sem que eu queira impor qualquer espécie de verdade, até porque repudio qualquer pensamento que determine o que é certo e errado, faço com liberdade particular, dentro do meu saber, uma análise profunda de tudo que diz respeito ao mundo e ao convívio humano ao qual pertenci e pertenço, e chego à conclusão que é possível enxergar que não existe pré-determinação, não existe um caminho pré-definido, não existe um destino certo, muito menos existe um propósito planejado com antecedência que funcione cem porcento (e, para muitos, isso pode ser um drama, uma encruzilhada cruel; o que também justifica a causa de muitos hábitos, atitudes, agressões verbais e crenças). Com isso tento afirmar que existo antes de a essência que aparento e que me julgam possa ter se formado. Quero dizer que nasci, para depois ser formado ao que me tornei como ser humano. “O homem nada mais é senão aquilo que faz de si próprio”! Fica claro o pensamento de que cada um é totalmente responsável por aquilo que é, pelas escolhas que faz e pelas consequências que as escolhas lhe trarão. É óbvio! Pode parecer um argumento duro, forte, um peso para se carregar quando se pára para pensar que o mundo é da forma que é devido às atitudes das pessoas com os outros, em sua maioria fundamentada na ambição demasiada, no egoísmo exacerbado, no desejo interminável de obter cada vez mais prazer, na inveja desavergonhada e no individualismo temperado com indiferença. Baseado em tudo isso, com o passar dos anos alguma coisa me aconteceu e pude cada vez mais continuar duvidando de boas intenções. Veio como uma praga, não como uma certeza de morte nem como uma esperança de vida, apenas uma doença que vem pelo ar. A sensação se instalou pouco a pouco, eu me senti bem esquisito, incomodado, nada, além disso, no primeiro momento. Mas cresceu. Aí, quando olho novamente o passado, retrocedo na minha história e percebo que sempre segui uma vida roteirizada, previsível, sem inovações e, ao que muitos criticavam e ainda criticam: sem nenhuma espécie de saída. Nasci, cresci, ingressei nos estudos, trabalhei, constituí uma família e desconstrui e assim vou morrer. Nesse meio-tempo, ouvi e continuarei ouvindo muitos conselhos, sendo a maioria aqueles que me incentivavam a trabalhar duro na adolescência e fase adulta para que tivesse uma velhice tranquila, sem depender de ninguém, aproveitando o que resta para que, na hora do último adeus, tivesse um velório belo e simbólico para as pessoas lembrarem depois como uma cerimônia bonita. Não que isso seja repulsivo, mas, como agiriam essas mesmas pessoas se descobrissem que a vida vai muito além desse roteiro já estabelecido? Imagino que não existe um propósito maior que não seja o próprio viver, por que há quem se importe tanto em seguir esse roteiro que já vem prontinho e é necessário estar na escuridão e amordaçado para colocar em prática?  
Doutrinas tradicionais condicionam a fazer isso, mas quando há clareza de ideias, as ações têm embasamento, favorecendo a resposta pelo bom-senso e uso do famoso termo “Carpe diem”, porque é o correto a ser feito (com toda minha humildade). O que se diz a respeito dessa falta de sentido da vida é que devemos, nós mesmos, dar um significado a ela. Como? Fazendo tudo o que pudermos e o que queremos no momento presente, estando consciente das consequências boas ou ruins que possam vir de cada ato. Esse método existe, querendo ou não, e deve funcionar. Ainda que se entre numa questão subjetiva. Mas o jogo é conhecido: a estrutura, nuances, e tudo o que ele proporciona em troca da força do querer e seu fim. Partindo dessa premissa, a questão é: existe o que se possa fazer para pôr em prática? E se há, como? E se não há, para onde ir? O que se fazer da vida? 
No final, está bem determinado, tudo o que é feito acaba no vazio. O que resta é procurar algo que valha a pena, que se faça com gosto, com vontade. Algo que seja capaz de trazer uma inovação, afinal, a vida parece bem menos interessante do que os filmes cheios de aventura, romance e vida heroica que corremos para assistir no cinema toda a semana. Quando uma pessoa apenas vive por viver, parece que não acontece nada. O cenário pode até mudar, pessoas podem entrar e sair, mas isso é tudo. Nunca há expectativa de novos começos e as horas passam sem o tique-taque do relógio, sem o som das badaladas do sino da igreja, mas num ciclo de conta de multiplicar interminável e monótona que leva ao infinito da mesmice. Certamente muitos, assim como eu, não saberão dizer, ao certo, o que os motiva levantar da cama todos os dias para viver essa vida que foi recebida sem pedir (inclusive eu). Mas minha observação mais crua da realidade pela realidade consegue criar uma corrente, e as minhas intenções atentamente observadas para o que faço aqui podem ser tanto consoladoras como desoladoras, à medida que se tiver sensibilidade o suficiente para compreender a mensagem explícita. Hoje, muitos lutam por uma supervalorização e atribuem à vida que levam a falta dela, esperando que um dia a vida vá entregar algo maior em troca. Se é conformismo, não sei; mas muitos buscam a zona confortável, então pensam: para que lutar e carregar mais peso? Para quê? A vida, e por si só, já parece por demais pesada para ser vivida. Muitos não desejariam que fosse assim, só que não puderam evitar; é isso. Então continuam realizando suas funções, sem entusiasmo, bem devagar, a contragosto, e as raízes se enfiando lentamente no solo arenoso. Mas a cada momento vem lá de dentro uma vontade de abandonar tudo e se aniquilar, mas julgam que seja melhor esperar. Estou por demais cansado e velho para aguentar certas coisas, continuo a existir, meio que de má vontade, simplesmente porque estou muito fraco para morrer, porque a morte só poderá me atingir um dia se vier do exterior; pois, só as lindas sinfonias de Beethoven trazem consigo a morte, como uma necessidade interna e de compreensão aos de fora — bem diferente da vida de “muitos” alguns que a única coragem que têm é a de esperar um sinal da divina providência para tomarem a iniciativa. Toda pessoa nasce sem razão, vive a vida que se prolonga em força e fraqueza e morre por acaso. Um dia inclinarei-me para trás e fecharei as pálpebras. Mas as imagens de toda uma vida, por uma última vez, como num flashback, virão encher de luz meus olhos fechados. Porque, mesmo de olhos eternamente selados dessa existência, a plenitude será o momento definitivo que ninguém poderá ser capaz de me desprezar, ferir ou abandonar.

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Cansado e Velho

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