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quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Uma Viagem Romântica 6

     - Acho que nem teremos vontade de almoçar depois desse café da manhã com tantas opções... 
     - Eu estou me acabando aqui nesse delicioso pão de queijo. Minha mãe sempre faz lá em casa, é daqueles semi-prontos congelados que se compra no mercado, mas não é a mesma coisa. Quando fica pronto, ainda quentinho, ela leva para o meu pai lá no quartinho dos fundos, mas ele nem come, diz que causa azia, o que atrapalha na hora de ensaiar com o saxofone. Mas ela insiste e ele faz cara de bravo... Então, Ronnie... Mudando de assunto... Fale algo de você, da sua vida. Como foi seu último relacionamento? Você chegou a comentar rapidinho no whats, mas não deu detalhes. Acabei ficando meio sem entender se você gostava dela ou não gostava, se foi você que terminou ou se foi ela. Entendi que durou um tempo e você frequentava a casa dela e tinha contato próximo com familiares e tal, mas não entendi como terminou e por que terminou.
     - Bem... Não dei mais detalhes por que foi uma passagem da minha vida que marcou bastante. Mesmo que já tenha se passado praticamente dois anos da separação, o sentimento que ficou não foi dos melhores para ambos. Creio que tudo tenha sido um grande erro desde o princípio da relação. Nós nos mostramos inseguros um com o outro e, até certo ponto, imaturos e sem controle emocional necessário para equilibrar situações que são inerentes a qualquer tipo de relacionamento. Entende?
      - Não. Não entendo. Você está sendo muito vago. Explicações muito genéricas e superficiais que dificultam o meu entendimento, porque são rasas demais. Seja mais objetivo para que eu possa compreender melhor, ainda que seja apenas o seu lado da história.
      - Ok. Acho que para um melhor entendimento seria interessante que eu lhe enviasse no whats os últimos dizeres, em forma de total desabafo, sem censura e sem pudores, que mandei para ela cerca de uns 2 meses após o término do nosso namoro. Péra aí, vou achar aqui na nuvem... Estou mandando... Chegou?
      - Sim, chegou. Nossa!!! Muito grande. Você escreveu um livro para ela?
      - Sabe o que é? Eu tentei me expressar de uma maneira mais filosófica, usando alguns artifícios de linguagem para fugir do padrão formal ou do típico relato de amor piegas que se lê em revista ou novela. Ela gostava que eu escrevesse assim, de um jeito mais rebuscado e puxado para ética e virtudes Aristotélicas.    
 Vou ler enquanto você termina seu café.
      - Beleza...    

   Shirley.


     Todas as dores prosseguem com asas estendidas. Voam em palavras que deixam atrás de si um lamento; são frases inacabadas de tristeza, discórdia e rancor, em imagens soltas do passado que persistem e um dia foram feitas de alegrias, de paixão e luxuria.

   Numa luta criada assim, acima de tudo, sabemos que o nosso êxtase foi vivido.
   E você, derramando-se entre os seus alegres devaneios escuta pés imaginários trotando no escuro e do nada se ergue um homem... Mas não sou eu.
    Através do tempo que ainda não acabou o mundo gira em direção a esse desconhecido. A porta que leva ao fundo do seu útero continua aberta, totalmente escancarada a esse alguém novo que acaba de chegar... Qual seria a verdadeira significação da sua nova pose? As palavras saltam da minha mente como luzes que podem deixar qualquer pessoa estonteada e sem rumo; ao mesmo tempo em que você é alguém que um dia teve o coração protegido por uma cúpula de aço e agora vive amesquinhada, mastigada, esfrangalhada como quem se perdeu no meio do caminho. Foi-se o tempo que ninguém a ouvia como queria; assim reclamava dia após dia. Esse era o seu lamento. Por seu espírito discordante o destino lhe atirou aos pés um homem que se expressava de modo diferente (Eu) e você se sentiu atraída e refém da situação. Chegou a chorar pela confusão que alimentava o seu ego inseguro. Com a força dada por esse homem, sentiu que poderia finalmente derrubar alguns valores existentes em sua vida. Você não aguentou a paz por muito tempo e semeou a discórdia, fomentou uma carga emocional tão forte que trouxe à tona dilemas mortos. Isso foi música para os seus ouvidos. Houve um caminhar que deixou pegadas sujas, como se o homem perseguisse sem descanso uma vadia mentirosa que o enganou e, por trás de aborrecimentos e intrusões maliciosas, ergueu-se a derrota da sua vida. Nada mais criava ordem, você apenas mantinha o absurdo de ser quem era no escuro. Outrora pensava e agia como quem tinha tudo a ver com crenças, princípios e educação. Tinha orgulho em dizer que não pertenceria a ninguém mais e a nada se dobraria. No mais alto objetivo que almejava não sabia que estava destinada a destruir-se por completo. O seu mundo transbordou além das fronteiras conhecidas, tornou-se um mundo miserável, triste e empobrecido pelos sentidos da sabedoria sem-sentido. É bem possível que se sinta condenada e sem esperança. Se você tivesse o menor sentimento o seu mundo não teria caído aos pedaços. Os fenômenos de uma relação amorosa não lhe causariam horror nem arrependimento. O seu mundo está esgotado e vive em declínio. Não resta qualquer enigma nisso que chama de prazer. O “obsceno” não está mais nessa cratera escancarada que leva entre as pernas, e sim no instinto desesperado de nunca ficar sozinha - como foi antes e é depois de mim. O mundo poderia partir-se em pedaços se alguém lesse os seus pensamentos na hora do sexo. Na sua “racha” cansada e reduzida a zero, um mundo novo, porém desiludido, ainda vive à espera de algo que nunca teve e que possa dar sentido à vida, mas tudo termina quando o fundo é preenchido com líquido leitoso em todos os espaços vazios. Uma pena que o seu mundo atual virou a premonição de um futuro cheio de sordidez e tristeza, entoado sempre nas mesmas dores que prosseguem sem cura, porque você nunca acorda para a realidade do seu tempo. 
     Peço que acorde. O tempo voa e não dá mais para ignorar o que passou. Sabia que a ignorância sempre é de quem ignora?
      Olha só, vou dizer: eu ando tão inquieto e inconformado com certas coisas, que não tenho mais paciência para lidar com os medos dos outros – muito menos com gente que não percebe que é preciso se mexer – ou aprender que isso, de permanecer num estágio letárgico de plena ignorância, não deve ser levado adiante por mais tempo.
       O medo a domina e a faz tremer, não é mesmo?
       Aí, você se encolhe cada vez mais, até o ponto de quase nem conseguir reagir e não sabe como se defender. Não tema, um dia tudo vai passar. 
       Eu compreendo bem tudo isso agora que tenho mente e corpo livres de você. Por isso me dirijo desta forma metafórica e tão cheia de significados, que parece mais complicada que um chamamento litúrgico.  
       Fico bastante estupefato até onde essa ligação filosófica pode me levar sem conhecer a fundo as distâncias percorridas, ou metas não atingidas por nós dois.
     Resta o agradecimento por tudo que foi aprendido a duras penas, numa lição de vida - que me fez perder a paciência comigo mesmo e com você.
     Percebo que estas palavras estão correndo por sua cabeça como um refrão. Agora você tem a oportunidade de ouvir mais e enxergar melhor. Você teve finalmente a chance de se tornar “observadora” e “analista”, isso é fascinante. A maior contradição que você não esperava, aconteceu.
     O tempo voa e não dá mais para ignorar o que deveria ser aceito sem remorso ou arrependimento de ambos. Cumpra o que algumas dessas palavras lhe ensinam, pois nisso há uma verdade que é exclusivamente minha e sua. Eis agora o destino de cada um refeito.
    Boa noite.    


     - Estou passada!!! Na mensagem você demonstrou que ainda gostava dela! 
     - Não entendi assim na época que escrevi e nem agora. Eu tentei fazer um desabafo, uma forma de repúdio de tudo o que aconteceu quando as coisas saíram de controle.
     - Sei lá... Ficou parecendo lamento de homem rejeitado. Se fosse eu a receber tal mensagem teria dado risadas e ficado com dó da pessoa.
     - Pode ser que algumas pessoas que lerem isso tenham essa impressão, mas o que vale é meu íntimo. Eu sei muito bem qual foi minha intenção. 
     - É? No seu íntimo você ainda gosta dela?
     - Claro que não, né... Se gostasse não teria lhe mostrado o que acabou de ler. É passado, página virada. Já foi... Essa história pertence a um tempo da minha vida no qual eu não estava raciocinando muito bem.
     - Agora você está raciocinando bem?
     - Claro que sim, meu amor. Estou aqui de mente quieta, espinha ereta e coração tranquilo - como diria Walter Franco. Pronto. Terminei o café. Vamos passear nas trilhas da serra que levam até a pedra que fica no ponto mais alto da cidade?
     - Vamos! 


Continua....




 

Cansado e Velho

Minha história gira em torno de mim mesmo, — uma vida quase nas portas do delírio na mente de muitos —, com o intuito único de conti...