Mostrando postagens com marcador Uma Viagem Romântica 01. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Uma Viagem Romântica 01. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Uma Viagem Romântica 1

    Foi numa quinta-feira, no inverno, fim de tarde de um dia de trabalho estressante, estava eu, confortavelmente sentado em minha poltrona preferida, que fora estrategicamente colocada entre duas caixas de som - para o efeito estéreo pudesse ser perfeitamente apreciado. Cuidadosamente, manuseava de um lado a outro a capa - e mais o encarte - do Lp do Led Zeppelin, o Led 4, enquanto ouvia “Going to Califórnia”. Teimosamente, mais uma vez, para desvendar o significado dos quatro símbolos místicos – há décadas tento entender se os símbolos pertencem ao ocultismo e à magia ou astrologia egípcia e cultura celta – nunca consegui encontrar resposta que me convencesse.
      No momento mais profundo da minha atenção, mergulhado em pensamentos e em "viagens" através da linda sonoridade acústica, a luz do celular avisa que chegou mensagem. Eu me aborreço um pouco, pois não gosto de ter o clima interrompido quando escrevo, ou em "viagens" imaginárias pelos mistérios do pensamento. "Viagens" que sempre me levam de volta aos anos 70.
       Na mensagem duas perguntas: - Tá ocupado? Pode falar agora?
       Imediatamente saio da poltrona, abaixo o volume do aparelho de som vintage – que é cuidado como joia rara - retiro cuidadosamente o braço do toca-discos de cima do vinil, e vou responder a mensagem, dando continuidade ao assunto que parece sério.
       - Oi, meu amor, linda gata manhosa. Conte tudo.
       - Vamos viajar nesse fds?
       - Viajar?
       - Sim! Tem uma pousada legal para irmos amanhã.
       - Como assim? Mas, já?
       - É.
       - Para onde?
       - Surpresa. Diga primeiro se aceita. Em caso positivo, faça sua mala e venha me pegar às 17h. Quando chegar aqui direi qual o destino. kkkkkk
       - Explique as coisas direito.
       - Já expliquei. Aceita ou não?
       - Não acredito numa coisa dessas! - Está bem, gata, eu vou, às 17h e buzino no seu portão. Esteja pronta!
       
      
                        A viagem:
       - Gatona, olha que céu lindo! Adoro quando o azul vai ficando mais clarinho no horizonte. E aqueles filetes de nuvem coloridos nas pontas, então? O céu claro no inverno sempre é mais bonito, você não acha?
       - É bonito mesmo – sussurrou ela, de olhos meio fechados.
Tudo parecia estar acontecendo rápido demais. E a jornada naquela rodovia estava apenas em seus primeiro quilômetros.
       - Tá bom, tá bom, já entendi. Você quer que eu fique em silêncio para não atrapalhar seus pensamentos e a admiração do céu. Mas é legal a gente ir conversando um pouco. Saber mais um do outro, já que nosso namoro tem pouquinho tempo – tentei estimular o diálogo que parecia difícil diante de tanta beleza da natureza sendo exposta gratuitamente ao nosso testemunho, como se fosse a imagem de um quadro que só se vê em exposições.
       Ela abriu um pouco mais os olhos e eles iam de um lado para o outro, como se quisesse absorver pela retina todas as imagens. Estiquei o braço e fiz um carinho em seu queixo descendo o dedo indicador pelo pescoço.
      - Um fato que ainda não conhece é que também sou bonito e muito carinhoso, brinquei e ela riu ficando mais solta.
    Ela hesitou um momento e moveu a mão para colocar sobre a minha perna, e disse em tom mais sério:
     - Já se passaram algumas semanas desde que nos conhecemos de verdade, pessoalmente, sabe? Depois que saímos a primeira vez a gente se viu pouco. Quero saber o que fez de bom nesse meio-tempo. Muitas paqueras? Você é um homem atraente que chama a atenção da mulherada. Deve ter muito trabalho respondendo mensagens no Whatsapp de pretendentes.
     - Espere um minuto, deixe-me pensar – murmurei - Hum... O que fiz de melhor foi pensar em você. Fiquei imaginando como seriam bons os nossos momentos quando você sugeriu a viagem para a pousada.
    - Só pensou e não fez mais nada?
    - Sim. Fiz minha mala e estava ansioso por isso.
    - Tá bom... Eu também estava. Eu precisava sair um pouco de casa.
    - Eu senti saudades. Acho que estou gostando de você. – interrompi a mim mesmo para chamar a atenção para coisas que só se vê uma vez - Nossa! Olha só... Veja como a estrada fica bonita com a sombra das árvores no asfalto... Adoro dirigir no fim de tarde com o Sol se pondo. Isso dá uma sensação de liberdade maravilhosa. Nada se compara a esse visual que nunca se repete e fica guardado na mente da gente para sempre. Não é mesmo?
      Ela endireitou-se no banco e não respondeu; apenas me encarou por um instante esperando o próximo comentário.
    - Então... Diga uma coisa – tentei perguntar.
    - Sim.
    - Como soube dessa pousada?
   Suas bochechas coraram e ela me olhou de um jeito como se, de repente, eu achasse que seu QI tivesse caído pela metade. E arrematou suavizando a voz:
    - Uma amiga me indicou, já faz um tempo. Ela passou um final de semana lá com o namorado.
    - Entendi. Você fez a reserva no meu nome ou no seu?
    - No meu, é claro! Você falou, mas nem lembro o seu nome completo.
    Ela ainda não me conhecia direito e dava sinal que estava achando o assunto extremamente chato.
    - Avisou em casa que iria passar o fim de semana comigo? Um cara praticamente estranho...
    - Falei mais ou menos. Não costumo dar muita satisfação. Assim evito perguntas que me cansam.
    - Como assim?
    - Eu não fico explicando as coisas lá em casa. Quanto mais detalhes eu dou, mais querem saber. Então só comunico quando estou de saída.
    - Ninguém se importa? Nem questionam?
    - Nem dou ouvidos. A minha mãe tem a mania de repetir a mesma coisa várias vezes como se ainda não tivesse falado.
    Era estranho. A única coisa que poderia deixar duas pessoas instantaneamente mais distantes parecia, na realidade, deixar mais próximas com o crescimento da cumplicidade e das revelações que iam surgindo..      
   O Sol estava se pondo e o vento frio da noite começava soprar com mais intensidade conforme íamos chegando perto do trecho em que a rodovia ia ficando deserta. Os últimos raios de luz insistiam em dançar em meio às finas camadas de nuvem no horizonte, tingindo todo o céu de tom alaranjado e vermelho claro. A estrada parecia mais calma à nossa frente, nos seduzindo a traçar com mais ansiedade o caminho que nos levaria ao céu.
    Era embaraçosa a situação de querer saber mais um do outro – mais eu dela do que ela de mim. Talvez suas respostas parecessem bem ensaiadas, o que, por enquanto, fazia o entendimento mais amplo ficar fora do meu alcance – para minha total frustração.
    Ela não parecia querer culpar ninguém diretamente, exceto a si mesma, por suas atitudes de se preocupar demais com os outros. Porque a única coisa verdadeira que carregava dentro de si era o seu passado.
  Lá estava eu de novo para mais um item da longa lista de coisas que eu achava não apenas necessário saber, mas que merecia saber, e ela não pensava ser necessário contar.
  Ela não demonstrava estar com frio nem com medo. Agora se sentia livre do tédio do seu lar. Estava livre, livre de todas as dores que já sentira no passado. Livre dos olhos que a seguiam e condenavam a todo instante.
   - Adoro momentos como este – disse eu -, faz a vida da gente realmente valer alguma coisa.
   - Oi? – sussurrou ela.
   - Eu disse que acho esses momentos maravilhosos.
   -  Ah tá. Eu também gosto disso.
   - Desculpa perguntar, mas você se dá bem com sua mãe?
   - Que pergunta é essa?
   - Ué... O que tem perguntar?
   - Não tem nada. A gente se dá bem, sim. Ela é bem sistemática e teimosa – o que me irrita bastante. Tem alguns probleminhas de saúde, mas, infelizmente, não aceita minha orientação para melhorar. Já elaborei um cardápio para que faça alimentação bem equilibrada. Deixei na mão dela, mas ela não deu muita importância. Ela se faz de tonta por não querer saber que a alimentação equilibrada é tudo o que ela precisa para ter boa saúde, mas não adianta ficar toda hora falando. Ela não me ouve e nem segue orientações do médico. Todos na minha família são teimosos. Quando eu era mais jovem avisei que cigarro matava e bebida comia o fígado. Mas, que o vinho, que por sinal eu adoro, podia ser tomado sem exageros. Fiquei cansada de repetir as mesmas coisas por anos a fio. Minha família nunca colaborou, eles achavam que era implicância, só pensavam em si mesmos e em suas opiniões por se julgarem com mais experiência de vida. Velhos antes do tempo, isso sim!
   - Nossa! Sério? O que sua mãe tem?
  - Ela está com palpitações de vez em quando, pressão arterial alterada e probleminhas de estomago. Eu já conversei, expliquei tudo direitinho, falei sobre a alimentação e exercícios físicos. Ela precisa caminhar mais, parar com essa mania de ficar sentada na cama ou no sofá assistindo TV.
  - Sua família tem tendência à alguma doença? Você parece muito saudável.
  - Não tem. É relaxo mesmo. Avisei que tem que tomar cuidado – isso causa prejuízos irrecuperáveis à saúde; ela nunca me ouviu e menos ainda agora que está mais velha. Diz sempre para eu me meter com a minha vida. Vou dizer... Larguei mão de ficar me preocupando com os outros. Agora vou viver do meu jeito.
   - Você parece chateada.
  - Não é pra menos. Um dia desses coloquei um cartaz sugestivo e muito bem humorado na porta da geladeira. Era com informações básicas de alguns alimentos:
                        Aviso:
 Não desgaste demais os seus neurônios pensando no que comer fora de hora.  
Não culpe outra pessoa quando não tiver seu prato preferido no almoço ou jantar.
Que tal usar a tática do “faça você mesmo” e mudar um pouco a sua alimentação?
Tenha paz na mente na hora de fazer a comida. Não faça nada após uma briga ou atrito com alguém. Espere algum tempo até a mente se acalmar.
Lembre-se que o alimento que você ingere se transforma de acordo com o seu temperamento. A sua acidez de pensamentos e emoções influenciam o bom aproveitamento das substâncias que servem para manter a boa saúde. Muita calma nessa hora.
Quando você se atrai por um determinado tipo de alimento existe um grande significado por trás da sua personalidade. Pense antes de comer.
Semelhante atrai semelhante.
Quem gosta de comida gordurosa é pessoa vingativa. Menos gordura, por favor.
Quem gosta muito de mel tem sentimentos nobres e tem o dom da caridade – troque o açúcar pelo mel.
Quem gosta muito de feijão é uma pessoa agressiva – coma o suficiente.
Quem gosta muito de arroz trabalha pela paz – coma o quanto quiser.
Quem gosta de batata em toda refeição é pessoa avoadinha que se perde nas ideias, e vive nas nuvens – mantenha os pés no chão.
Idem para quem gosta muito de chocolate – controle a ansiedade e o humor.
Muito sal e muita pimenta também fazem mal – quem gosta de muita pimenta é “pimentinha” na vida.
Muito doce e chocolate é típico de gente carente – você tem uma vida sem prazeres e precisa de serotonina para não ficar amoadinha num canto?
Sempre muita atenção aos alimentos e ao preparo.

     - Você fez isso mesmo? Não acredito!
     - Fiz! O cartaz ficou lá por uma semana, depois minha mãe jogou no lixo.
     - Ela não vai ao médico para ver esses probleminhas?
     - Ela vai, sim. O médico fala umas coisas sérias pra ela e passa receita.
     - Ela tem mãe viva?
     - Não tem. Morreu há anos. A minha avó morava perto da gente. Ela estava muito doente, eu ia até lá de vez em quando conversar, fazer companhia.
     - Você sempre foi bem ligada à família. Legal isso.
     - Eu sou.
     - Você tem irmãs?
     - Quanta pergunta hein? Isso parece um interrogatório. Acho melhor me contar alguma coisa de você. Você quer saber muito de mim, mas não revela nada da sua vida.
     - Desculpa. É que precisamos conversar qualquer coisa. Ok então, falarei de mim: a minha vida é comum. Sigo rotina de trabalho e deveres do lar, nada muito especial. Sou sossegado, não curto a noite e nem saio para baladas. Vivo praticamente de casa para o trabalho e vice-versa. Raramente faço algo diferente num fim de semana. Mas agora que conheci você, parece que tudo vai ser mais legal. Uma pergunta, para não fugir do assunto: alguém em sua casa é chocólatra? Estou perguntando por causa do aviso na geladeira. Despertou minha curiosidade a parte do chocolate.
     - Eu adoro chocolate.
    - Então quer dizer que não dispensa um chocolate?
    - Bem mais que isso. Eu escondo as barras de chocolate nas gavetas para minha mãe não me criticar. Certa vez, ela estava fazendo aulas de natação para a terceira idade, e ia comendo chocolate no percurso de casa até lá. Eu avisei que não podia. Que poderia ter hipoglicemia. Que não se deve comer chocolate antes ou durante atividade física. Ela não me ouvia, só pra variar é comum ninguém me ouvir. Por isso eu escondo. Se ela descobrir dirá: "Eu não posso, mas você pode, né, mocinha?".
    - E antes de transar pode comer chocolate? – joguei a piada dando risadinhas no final. 
   - Também não pode! – respondeu secamente.
  - Xi... Então fiz sempre tudo errado – tentando a todo custo arrancar um sorriso para tentar sair do clima pesado de histórias dos conflitos filha e mãe.
  - Minha mãe é quase uma filha para mim, com o passar dos anos a coisa se inverte na relação. A gente é muito amiga, muito próxima. Já fizemos várias coisas junto. Eu me dou bem com ela, basta não pegar no meu pé ou ficar repetindo as histórias que já sei de cor e salteado. Ela sofreu demais na juventude. Achava que o pai não gostava dela como dos outros irmãos.
  - Entendo... É bem complicada esse tipo de rivalidade. Olha só... Estamos quase chegando à divisa de municípios. Colocou direitinho no GPS o caminho da entrada da cidade até a pousada?
  - Está tudo programado. O dono da pousada me disse que se nos perdêssemos era só ligar que ele viria ao nosso encontro.
   - Beleza, então. Estamos quase lá, faltam poucos quilômetros. Falando em comida, de repente me deu fome. Tem algum chocolate aí na bolsa?

Continua na próxima postagem....



Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Por favor, deixe um comentário, pois essa ação fortalece o blog nos mecanismos de busca do Google. Isso fará com esse texto chegue para mais pessoas, algumas que talvez precisem dessas palavras.

   Se você gosta e valoriza esse tipo de trabalho poderá contribuir com qualquer quantia via Pix. 
Essa  é também uma forma de incentivar o escritor a dedicar tempo e horas trabalho na produção de novos textos. Agradeço a todos que lêem, incluindo os possam ou não contribuir com esse humilde servo da escrita. Novamente muito obrigado por ter chegado até aqui.

Chave Pix: 11994029570 


Cansado e Velho

Minha história gira em torno de mim mesmo, — uma vida quase nas portas do delírio na mente de muitos —, com o intuito único de conti...