Quem visse de perto aquela mulher, com os seus anos de estrada, dificilmente imaginaria que em outras épocas, - tempo de menos esclarecimento popular – ela teria sido queimada viva numa enorme fogueira em praça pública.
Uma vez, há muito tempo, ela me disse: “Sou bruxa
mesmo, mas e daí?” Garantia em tom jocoso os seus atributos pouco ortodoxos de
sentir energias e receber algo parecido com premonições. No mesmo instante me
lembrei daquelas bruxas que me faziam morrer de medo nos filmes de televisão,
- ainda em preto e branco - isso já por volta dos meus sete ou oito anos de
idade. Eram as bruxas pretensamente do mal, vestidas com roupas pretas, mais o
chapéu pontiagudo e com uma ou duas verrugas no nariz
comprido. Elas afirmavam aos quatro ventos que adoravam sexta-feira 13,
especialmente em agosto, e a data 31 de outubro. Nunca esqueço
aquela risada horrorosa e estridente que assustava os bichos da floresta (cruz
credo!). Sempre no final de tarde tinha aquela bruxinha do bem que eu gostava
de assistir, - por que achava muito engraçada e bonitinha - a Samantha,
daquele seriado "A feiticeira". Lembram? Bom... De qualquer forma, naquele tempo
ou hoje em dia, tudo parece historinha para criança. Acontece que depois cresci
e aprendi a observar melhor as pessoas e acabei descobrindo que existem bruxas
de verdade. Descobri que elas estão por aí em qualquer canto ou esquina da
nossa vida. São muito mais numerosas do que qualquer ser normal poderia
imaginar. Elas se parecem com qualquer um de nós e não voam em vassouras. Muito
pelo contrário, elas viajam em carros, motocicletas ou barcos, lotam ônibus, metrô e até fazem uma longa caminhada no parque pela manhã. Podem ter curso
universitário com várias especializações ou trabalham diariamente em escritórios,
galerias de arte ou ateliês. Escrevem livros ou deixam suas opiniões em blogs. Fazem
conferências e dão aulas de massoterapia ou se misturam como
mestres e aprendizes nos cursos de artesanato e nutrição. Administram grandes
ou pequenos negócios e, depois da jornada de trabalho, vão ao terapeuta
holístico – onde desenvolvem técnicas de trabalhos naturais em busca do auto-equilíbrio
corpóreo / psico / social. Trabalham a correção e a harmonização de seus
próprios recursos físicos, emocionais e energéticos com o objetivo de transformar tudo
em autoconhecimento.
A grande diferença entre elas e os mortais
comuns (nós) é que as bruxas têm hábitos um tanto esquisitos. Algumas até remexem
caldeirões e fazem poções mágicas às escondidas - no melhor estilo de qualquer
filme do Harry Potter. Conhecem a cabala e vivem murmurando palavras estranhas
em noite de lua negra. São até capazes de inventar feitiços que curam os amados
ou que amaldiçoam os desafetos. Usam palavras que transformam qualquer pequeno
objeto num grande amuleto que atrai amor e dinheiro (putz... estou precisando de
um desses!). Estes são os tipos de algumas bruxas que já conheci de pertinho.
Eu disse de pertinho? Sim! Bem de pertinho mesmo! E garanto uma coisa: para os
dois lados dessa vida - do bem e do mal.
Essas pessoas demonstravam a sensibilidade
desenvolvida, com o dom que os leigos chamam de “sexto sentido”. Foi assim que
depois de muita pesquisa descobri que tive uma geração de bruxas em família.
Minha mãe contava que durante a época da
caça às bruxas, os objetos tradicionais usados pelas feiticeiras, como o bastão
de pitonisa e as varetas mágicas, foram banidos para não despertar suspeitas - os quais foram substituídos por instrumentos de cozinha usados no cotidiano que não
despertariam o olhar curioso, como, por exemplo, a colher de pau. Era apenas
mais uma estória que a mãe contava para o filho pequeno, mesmo assim entendi
por que bruxas adotam grandes colheres de pau para mexer no caldeirão. Ela, (a
minha mãe) descendente de italianos misturados com um povo cigano que não sei
falar o nome, aprendeu a feitiçaria com os requintes das mitologias grega e
celta. Por uma dessas coincidências do destino, ela acabou sendo a caçula da
dinastia das bruxas e não passou o “bastão” adiante por que não teve filhas e
nem sobrinhas. Mas no fundo o seu desejo era ter 7 filhas. Ela me contou que
logo aos 5 anos já era uma bruxinha muito malvada e sabia de cor as palavras
para enfeitiçar. Foi crescendo e aprendeu entrar em sintonia com a natureza e
seus elementos, – terra, fogo, ar e água – rapidamente conseguia transformar os
frutos da terra em seus aliados – conversava dia e noite com as plantas e
acariciava árvores. Aos 10 anos já sabia fazer um tipo de elixir contra inveja
e dor de cabeça. Que maravilha! Uma bela surpresa com grande orgulho para a
bruxa velha e caolha que só falava italiano; a minha avó. Ela ainda deu
detalhes que na sua infância, dos 5 aos 10 anos, ouvia vozes estranhas, ruídos
inexplicáveis pela casa e tinha visões de sombras passando pela parede. Foi assim
que começou a se interessar pela bruxaria e outras coisas estranhas ao olhar comum. Afirmou
durante anos todos os dias que bruxaria não é um privilégio
das mulheres e eu, como seu único filho, deveria seguir os ensinamentos. Mas
eu sempre fui muito dispersivo para certas coisas - achava bobagem aquelas
alquimias estranhas feitas no fogão a lenha. Para ser bem sincero morria de dó
dos gatos pretos presos nas gaiolas individuais lá no fundo do quintal. E fazia
questão de passar bem longe dos livros de filosofia Rosa Cruz pendurados na
velha estante da sala - alinhados e misturados com os de física Quântica que
eu nem imagina o que deveria ser. Depois de anos descobri do que se tratava toda
aquela literatura, bem diferente do tempo em que eu mal sabia o alfabeto e via
aqueles livros como grandes volumes encostados um no outro. Era muito estranho quando eu pensava que eles voavam por serem livros de magia – mas a mudança de
lugar era por conta de tantas consultas noturnas feitas por ela.
Os anos
passaram e foram várias as noites que a via debruçada sobre a mesa tentando decifrar
a cabala para desvendar o mistério das coisas que a perturbavam. Com base
nesses conhecimentos ela preparava talismãs para algumas pessoas que começaram
a pagar pelos serviços. As essências de florais viraram uma febre para alguns
clientes especiais que pagavam caro por um frasquinho com meia dúzia de
gotinhas. A conta bancária cresceu e a vida melhorou – até comprou um carro usado vermelho. Também tinha um tipo de reunião que ela fazia semanalmente com
mais 12 bruxas em roupas de cerimônia. Eram organizadas gravuras do sol e da lua
sobre a mesa comprida; traduções da energia masculina e feminina para o ritual.
Enfileiradas apareciam adagas e, na sequência, vários pentagramas, um cálice,
uma espada e pedras brilhantes; símbolos bem tradicionais da magia - que nada
mais eram que os veículos da energia concentrada pela força do pensamento. No
final faziam orações mentalizando soluções para os problemas individuais e exteriores
– como os prejuízos causados pelo homem ao meio ambiente. Pareciam muito unidas
e determinadas defensoras da natureza quando saiam juntas à rua. Odiavam, com
olhos arregalados, quando algum leigo fazia chacota chamando cada uma de bruxa
ou a todas de seguidoras de satã. Poucos passos à frente o infeliz camarada
poderia dar uma topada ou cair num buraco enquanto elas se esbaldariam de tanto rir
com o acontecimento. Mas se na queda ele quebrasse o pé ou a perna,
imediatamente elas prestariam os primeiros socorros, como qualquer pessoa
normal a acudir o coitado.
A moral da história é que existem muitas bruxas
que já flertaram com as práticas de satanismo antes de abraçar a
bruxaria, a magia ou a crença Wicca - inclusive a minha mãe, mas não garanto que
fosse nessa vida.
Um dia as bruxas acabam ensinando aos
incautos que tudo o que se faz de mal aos outros volta em dobro. Usam como
filosofia de vida a forma cósmica da força do pensamento e orações transformadas
numa energia que transcende o entendimento – e isso independentemente no que se
crê.
Para entender melhor acontecimentos como
estes é preciso estudar mais, observar e vivenciar – de preferência por alguns
anos. Assim se acaba tomando a Bruxaria como uma arte que é tão necessária à
vida quanto outras com a mesma dedicação. No presente os hábitos danosos aos
outros devem ser mudados e os pensamentos em constantes transmutações devem ser
filtrados. Deve-se sempre estar disposto a enfrentar tempestades emocionais e
sociais, ou mesmo – e as piores de todas – as tempestades internas. Eu sei que é difícil entregar-se totalmente quando não se
conhece algo, porém, é necessário a entrega com árdua dedicação para vivenciar a
magia na plenitude. Minha mãe explicou que é muito comum a bruxa ter poucos amigos. Não por ser pessoa tímida
ou algo assim, mas por gostar de apalpar durante muito tempo o terreno que pisa antes da plena confiança. E se você não for uma pessoa que respeita pontos
de vista diferentes ou não sabe guardar segredos dificilmente conseguirá ser
amigo de uma bruxa. Ela nunca lhe contará sobre suas experiências mágicas e certeiras. A magia nada mais é que a canalização
de energia para um determinado ponto. Enfeitiçar não é privilégio só das
bruxas, qualquer um pode ter esse poder que vai da sedução à vingança, da
bondade à maldade. Eis aí o maior de todos os seus dilemas: escolha como será
na hora que desprender tal energia de si. E saiba que mais cedo ou mais tarde ela voltará bem mais ampliada do que quando saiu”.
Bom, diante de tudo isso, concluo o seguinte e fico a
pensar num velho ditado espanhol: “No Creo en las brujas, pero que las hay, las
hay”.
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