segunda-feira, 28 de abril de 2025

Coração Puro

   





 Um dia, novamente nos encontraremos para um passeio, com o pensamento tranquilo e o coração puro. 

 Nós caminhamos por muitas ruas e estradas, e eu amei tudo aquilo. Minha vida parecia um furacão com tantas idas e vindas, e você sabe que eu não tinha descanso.
     Quando nos vimos pela última vez, você sequer imaginou como as coisas terminariam, e depois disso tudo se foi.
      Hoje, olhando você assim tão presente na internet, vestindo trajes diferentes, fico feliz por parecer tão bem.
      Sabe a sua timidez? Ela ainda persiste e acho que é para a vida toda. Apesar disso, você está melhor agora, e poucos vêem isso, por que, lá atrás,  você se refugiava em seus dramas.
      Quanto a mim: eu sempre fui diferente, mas era tudo defesa. No fundo das minhas polêmicas e reivindicações sempre esteve a pessoa assustada com a possibilidade do amor. E, diga-se de passagem, eu me intoxiquei de muitas coisas, principalmente com minhas razões e certezas absolutas. E, se hoje eu sei disso, entendo com clareza que era tudo para fugir da realidade, porque minha vida era como flashes luminosos que necessitavam de admiração.
       Você sabe que em nossos momentos bons havia criatividade e nos maus era destruição.
       Tenho total consciência que ainda hoje você vive sob o peso da minha imagem na lembrança, mesmo depois de todos esses anos. Eu entendo que você não merece arrastar isso, porque agora é uma pessoa melhor que eu, e fico feliz em imaginar a sua vida  completamente refeita.
     Quero que saiba que não tenho raiva de nada.
     Quando a minha ilusão foi derrubada e meu corpo sentiu, o coração se partiu em pedaços, mas isso não me matou e nem matou a minha inspiração.
     Posso afirmar que ainda recebo  coisas boas daqueles que se compadeceram comigo. E essa energia me fez transformar palavras em sensações reconfortantes, talvez por isso a criatividade nunca acabou.
     Se agora eu pudesse, seguraria a sua mão e caminharíamos abraçados, admirando com empolgação o céu salpicado de estrelas. A vida não nos permite isso novamente, mas as palavras me levam ao infinito e me fazem sonhar essas coisas.
      Eu sei que compreenderá com parcimônia o que há aqui, pois tem bom coração. Tenho certeza que na ocasião certa falaremos sobre tudo isso - talvez durante seu sono ou via energia cósmica.
      Um dia, num lugar especial, nos reencontraremos para uma reconciliação espiritual, pode esperar. Nessa ocasião eu lhe abraçarei, citarei versos do livro que lhe dei e você nunca leu.
      A novidade do momento é que você está tão bem nas fotos do quintal. Continua a mesma pessoa tímida e com o olhar para o vazio, permanece em busca das coisas que nunca encontrou - em busca do seu Eu.
    Creio que isso vale para você bem mais que a fama, o sucesso ou o reconhecimento que espera por seus esforços. Você sempre soube que no fundo tudo é ilusão.
    Nós andaremos de mãos dadas novamente como antes, e isso será maravilhoso. Você me sentirá com o seu coração e não mais apenas com a cabeça, e então você verá a luz. Mesmo que permaneça de olhos fechados você saberá que sou eu, como se fosse um raio rasgando a noite para guiar seus passos. Por que, um dia, eu aprendi com você como fazer a palavra virar luz de forma espontânea.
    Não pense em mim no passado, pois eu estou no presente e torço por sua vida refeita e iluminada. Amo você mais do que nunca. Sua imagem estará para sempre guardada em meu coração, bem juntinho daquela nossa canção especial, a canção do refrão apaixonado.
    Que aquela trilha sonora de estrelas, que sempre salpicou de luz o nosso caminho, continue guiando o seu. E jamais esqueça que para voltarmos a passear juntos, basta um pensamento luminoso e um coração puro.


domingo, 27 de abril de 2025

Equívocos Acontecem...

               Na tez pesada, com ar determinado e cruel, olhos negros, frios, redondos e fixos.
        Ergo-me do tombo e depois, como se tivesse me decidido pelo silêncio, viro a cabeça e vou. 
        Sigo através da rua escura, sinto sonolência e admiro cada ponta de estrela no céu.
        No pequeno pensamento reconheço bem, e naturalmente, o que foi secretamente agradável, e  quase me convenço que estou livre de todas as culpas.
        Uma voz interior explica as razões. Mas ainda não me soa convincente.
        Então do nada a voz diz: “Você é um imbecil!”
        Toda a vida reluz, todo o sentido da emoção revive, lateja e pesa sobre os ombros que arquejam e eu choro.
      
        Sou como todos aqueles que têm sofrimentos e misérias privadas nas escolhas erradas e vivem num mundo sem esperança carregando a culpa.
        É nessa hora que todos os acontecimentos ressurgem e são enfiados goela abaixo do ego ferido, num baque na vaidade.

        Apenas mais um passeio pelas mesmas ruas noite após noite até a desesperança tomar conta da mente insana...
       
        De vez em quando, com sombria satisfação, eu penso em outro modo de vida.
        Imagino se faria alguma diferença agir de outro jeito.
        O ciclo chegou ao fim em algum lugar que não sei exatamente onde.
        Esse fim que me fez desacreditar em toda a obrigação com amores, ódios, preconceitos, armações e rebeldia. 
        Aprendi a ser só, único, ego próprio, com a esperança do entusiasmo renascer para viver todo o tempo que ainda tenho - o que poderia  trazer ideias brilhantes com sugestões exequíveis, sem os antigos espasmos, reflexos, retrações e dúvidas cruéis que me sufocaram a cada suspiro.
        Não pareço nada além de um ser humano comum e cansado, um ser vivente e pensante. Uma falha da natureza em seu mais lindo esplendor de perfeição, como o  princípio de todas as coisas incompreensíveis que usando da sagaz visão impõe a si a condescendência.

        Quem tem uma ideia,pondo-a em prática, rege a perfeição.
        Ouvi a pergunta: “Você já fez isto antes?” 
        Quanto mais faço, mais desdenhoso me torno.

        Quantas observações imprecisas no decorrer da vida tornaram evidente essa minha filosofia particular?

        Pura ingenuidade pensar que estive certo...
        O diabo agora sorri para mim com seu hálito quente e olhar hipnótico.
        Sigo pela rua escura, caminho caótico e me guio pela ponta da última estrela que cruza o céu.
        Fico tão impaciente com tantas teorias para explorar ao desabafar toda esta porcaria que tenho dentro do peito.
        Serei eu meu único e melhor ouvinte?
        Se assim for fico sem sentimento de culpa ou constrangimento, exercitarei livremente a mais pura sensação de limpeza da alma, do espírito, do corpo e da aura iluminada.
        É mais uma tentativa do que ainda não compreendo na essência.
        Sei que há algo putrefato na retina cega da incompreensão nesse medo da solidão profunda que chega através do monólogo e na repetição cada vez mais frequente da mesma emoção que persiste indefinidamente.
        Seria uma junção da minha futilidade com minha insegurança ou uma paixão estropiada e mal explicada na justa razão dessa ação?
        Amoldando a atitude e renovando as esperanças, todas as coisas ficarão quentes e confortáveis novamente nesse coração.
         Eu tenho que acreditar que realmente preciso disto, desse jeito, dessa forma especial.
         O meu presente é algo que devo receber com graciosidade e gratidão.
         Quanto maior importância eu der a tudo que passou, menos usufruirei do que vier.
         O que me mata é às vezes não saber me expressar com exatidão. Uma exatidão firme, devoradora e explícita.
         Talvez eu não me importe tanto com o que aconteça de agora em diante - seja a tristeza, a perversidade ou a indiferença. Acho que nem fracasso me impressiona mais.
          Gostaria tanto de juntar coragem, ter a força e a decisão que demonstro com todas as minhas fraquezas ao expor minhas entranhas e meus pensamentos nas reações incoerentes.
          Mas uma maldita coisa me corrói por dentro e dói no pensamento ao querer o diferente. O diferente de tudo que já passou...
           Essa minha inaptidão me revolta e minha falta de senso me condena a cada palavra, fazendo de mim mais um divagante perdido no lodo da vida...
            Mas acima de tudo sei que equívocos acontecem e sigo adiante assim mesmo...

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Poeira Nos Olhos

Lembrar de tudo: fatos desnudados.
A verdade: coisa longe da realidade.
Era o que eu queria acreditar.
Mágoas: lembrança distante.
Caindo no mesmo erro: se recompondo.
Engano trágico: desconfiança.
Outra desilusão na doçura do tempo.
Subjetividade: limite do entendimento.
Em respostas imediatas: destino calculado.
Movimento estranho e cruel; sem data ou local.
Por um instante: poeira nos olhos.
Caminho inóspito com cheiro de folhagem.
Barreiras naturais: pedras, buracos..
Árdua caminhada; rumo perdido.
Viagem acidentada em dias sossegados.
Sintonia silenciosa; disposição maliciosa.
Conflito de personalidade, comportamentos distintos.
Coração com escudo; armas empunhadas;
no olhar da verdade: revelações...
Sequência:
ato de hostilidade em defesa do nada.
Fatos de outra época: humilhação.
Punição: 
fisionomia fechada, olhar altivo.
Pairou sob a luz da tarde:
uma estrada sem fim. 
Pose irredutível; pensamento demorado...
Pausa mansa, tudo se foi devagar.
Persistiu: 
raiz amarga no fundo do pensamento.
O coração colheu o chamado;
envenenado por mentiras e prazeres imediatos.
Excitação sexual: um belo sentir.
Cegueira e luta com ardor.
Cavando uma trincheira: suor escorrendo...
Propósito inglório; tudo ficando pior...
Satisfação atroz no sexo.
Sentimento bom: prazer pela desgraça.
Ações num disfarce,
momentos incontroláveis: medo.
Angústia: um ser confuso.
Doloroso demais, momento de desespero.
Atos diferentes do discurso.
Pedido de justiça: confronto de pensamentos.
Ideais descumpridos.
Insulto e desabafo.
Uma advertência!
Espelhos da vida destruídos.
Estilhaços: imagens perdidas no tempo;
um grande quebra-cabeça.
Falta de virtude: risada cínica.
Tempo de terror, frustração e dor.
O sentimento bom agonizou...
Um sorriso: defesa astuta.
Fatos desnudados: julgamento!
Timbre tosco, voz diferente:
caminho para loucura.
Fracasso!
O veneno do delito.
Culpa: uma mente doente.
Ferida incurável.
Morte lúcida.
Secura: poeira nos olhos.
Ultimo olhar: piedade.
Tempo: único apelo.
Palavras: juras falsas.
Recompondo o amor próprio:
grito de liberdade.
Livrando-se das culpas.
Justiça: momento de lucidez.
Coração bate normal: sanidade.
Continua assim.
Cheiros: coisa degradante;
mofo na memória viva.
Sentimento estéril...
Existência abandonada.
Condenação sumária: poeira nos olhos.
No íntimo o saber:
tudo perdido desde o principio.
Decisão interior: entrega à solidão.
Exílio!
Nada o que se possa alcançar:
mente turva.
Olhos em silêncio:
indagações no pensamento.
Momento de busca:
apenas um corpo.
Lamento: morte.
De joelhos:
uma imagem; pecados e omissões.
Tentando entender...
Cinzas: ausência.
Salvação: choro.
O resto dos dias.
Final de tudo.
Apodrece: a vida floresce.
Pensamento: poeira...
Olhos: para sempre cerrados...


quarta-feira, 23 de abril de 2025

LIÇÕES

    
     Cito, logo de início, a frase de Bertolt Brecht da peça teatral “Aquele que diz sim”: “O importante de tudo é aprender e estar de acordo”. Creio que esta citação ilustra bem o tema a seguir.
   Vamos lá então...
   Vejo que todo mundo quer acertar e ir em frente; e assim conhecer alguma outra nuance da vida ou seus mistérios. Não é mesmo?
   Porém, nem sempre dizer sim significa estar plenamente de acordo com determinadas situações, ainda mais quando existe o conflito moral atrelado aos costumes, isso desde quando nos conhecemos por gente. E nesse caso a moral está praticamente fadada a falhar, quando se entra num conflito em busca da melhor solução ou quando nos sentimos inseguros.
   Dentro dessa coisa de tentar acertar, quebrando paradigmas impostos, é preciso entender motivações para saber onde está a causa dos problemas que tornam mais difícil uma decisão.
   Às vezes o palpite, ou a opinião de alguém em forma de crítica, pode ajudar nessa parte. E tudo depende muito de como se escuta a mensagem passada.
   Por mais que uma crítica tenha o sentido da maldade, muitas vezes ela está detectando uma coisa significativa que não percebemos em nós.
   “Imágina, eu não sou assim!”
    Sabe por que isso acontece?
    Porque quase sempre não temos noção de como é a gente com a gente mesmo, ou como funcionamos e nos posicionamos diante de circunstâncias delicadas. A gente acha que sabe tudo, mas, no fundo, temos uma visão errada em como as pessoas nos vêem verdadeiramente – vivemos durante anos num modelo de ilusão para o conforto do próprio ego.
   Quando se está envolvido de verdade consigo mesmo, tentando acertar primeiro lá dentro e depois com o mundo, acaba-se vivendo num observar-se e compreender-se bem melhor - não desmoronamos diante de qualquer manifestação de crítica; e apenas pensamos naquele feito como um aprendizado.
    O ponto de vista muda quando a honestidade com a gente mesmo prevalece - apesar de ser uma coisa muito difícil de ser praticada.
     Por isso que no decorrer da vida tem-se sempre a tendência a ser cruel com a gente mesmo, com uma série de auto-sabotagens. Aprendemos a desenvolver culpas e castigos como autopunição, por ter feito algo assim ou assado, coisas das quais sempre nos arrependemos depois.
     Fala-se dos outros porque é bem mais fácil enxergar os defeitos alheios. Isso é bastante terrível, porém ninguém é desonesto com outros se não for consigo mesmo primeiro. O caráter das nossas ações se baseia no modo como a gente se trata e isso reflete nas outras pessoas através de atos bem previsíveis.
     A causa mais aparente está sempre na questão da ideologia do ideal.
     Existe em nós a ideia fixa do “tem que ser”. Um pensamento desenvolvido através daqueles tempos de aprendizado na infância, e que chega forte à fase adulta. Juntando-se a essa ideia do “tem que ser” vem outra mais forte, e o seu nome é “deveria”. Aí dizemos a nós mesmos, ou aos outros: “Deveria” ser de outro jeito, “deveria” pensar o contrário, “deveria” se adaptar, “deveria” aceitar as coisas como elas são. “Deveria, deveria, deveria”.
     As pessoas vivem nesse mundo de ideologia e pensamentos moralmente perfeitos e se iludem que os outros “deveriam” seguir essas regras.
      Pois é... Engraçado isso. Como a vida é incoerente, não é mesmo? Temos essa mania de sempre idealizar os outros, ditando regras do que “deveriam” ser.
     Eu sou aquilo que dá para ser. E afirmo com todas as letras: Não! Eu não deveria nada. Você é que está se iludindo em pensar que o outro tem que ser o seu idealizado. Eu só posso dar os meus passos de acordo com o que sou e com os meus conhecimentos.
    Claro que fingir todo mundo finge, brincar todo mundo brinca,  mas ninguém é o “deveria”. Isso é uma invenção do instinto de dominação do Ser humano, que anda lado a lado com a ideia de subjugar o outro com esse tal “tem que ser”.
   É certo que a gente tem um tipo de crescimento e aperfeiçoamento das qualidades da natureza humana, que vão surgindo com todas as experiências acumuladas. Mas ninguém pode ser o “deveria” dos outros.
    Existem pessoas e pessoas. Tem gente que faz por onde não receber o bom tratamento ou respeito.
      Um dia descobrimos que o Ser que idealizamos é aquele que nos frustra amargamente e a gente se entristece por causa disso.
    Uma pessoa que reconhece a sua própria verdade não precisa de um juiz arrogante e perfeccionista lá dentro da cabecinha condenando qualquer ação feita ou recebida.
    Então... O Ser humano só vive satisfeito quando está feliz. E a felicidade está sempre no real e não no ideal. Isso exige uma capacidade de olhar a vida de outro modo.
     A vida ensina a todo mundo. A lei do homem tem jeito de manobrar e escapar com vários argumentos, mas a lei da vida é irremediável.
    Que cada um tome a própria lição. O lema diz: “Quem não aprende pelo amor, aprende pela dor” e isso é mais velho que andar para frente.
    Então, voltando a Bertold Brecht, existem duas opções de escolha. Uma diz que aquele que está atrapalhando uma caminhada deve ser largado para trás ou jogado no abismo; a segunda: a regra de moral ou bom-senso nos ensina que, quando as coisas não dão certo, a solução é retornar ao ponto de partida em busca de  novas alternativas.
    A escolha está ao dispor. Escolha o seu caminho e seja feliz, pois, o mais importante de tudo é aprender e estar de acordo com o bom senso de cada momento ou situação!

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domingo, 20 de abril de 2025

Mentiras

   Durante muito tempo você se manteve em posição de defesa - foi quando o seu coração atravessou noites sem consolo. Ninguém jamais viu os seus olhos molhados no escuro do seu quarto – eram noites e noites em transe com as lembranças daquelas palavras doloridas que aos poucos iam lhe corroendo por dentro.
   Numa época à frente, livre em parte de tal desespero, sentiu que tinha forças para lutar e seguiu em busca de um alento que amparasse tantas dúvidas permanentes sobre a própria existência. Foi quando encontrou a mim pelo meio do caminho, e assim entrei por um tempo em sua vida - acho que eu estava muito a fim de descobrir se mantinha ou não a posse do meu juízo perfeito, digo, para encarar novamente um compromisso com alguém tão legal como você era à primeira vista.
     Porém, sem demorar muito, logo percebi que seu olhar era de quem praticamente estivesse à beira da loucura, guiando-se em seus exemplos por experiências malfadadas do passado - as histórias que contava eram como um labirinto de ficções intermináveis – em nenhum momento parecia dizer alguma verdade que me convencesse, mesmo de alguma questão simples – quando começava  a falar eu já sabia como terminaria e quais os fatos que citaria para dar mais ênfase ao seu ponto de vista. Rapidamente adquiriu esse hábito e dele criou um grande leque de possibilidades para a mesma história fantasiosa, que se repetia em versões mais elaboradas com o passar do tempo. Você temia tanto o confronto com a verdade, em seu modo arisco de ser, que quando uma ponta de mentira me motivava desconfiança, você fingia um acesso histérico e dava às costas pisando duro como se fosse vítima da maior ofensa.
      Muitas lacunas ficaram de nossas conversas, inclusive em discussões prolongadas que aparentemente tinham um tom de sinceridade.
    O tempo passou e você nunca mencionou alguém que gostasse em sua infância, ou uma brincadeira especial ou, quem sabe, o desejo do que queria ser quando crescesse - jamais me falou de uma rua onde pulava corda ou de um parquinho onde brincava no balanço ou escorregador. Quando um dia lhe perguntei como tinha sido sua infância, apenas me disse que nadava na piscina (até me deu uma foto daquela época feliz, lembra disso?). Nunca presenciei um vislumbre em que recordasse uma cena da qual sentisse orgulho na pré-adolescência - dando sempre a entender - na expressão sisuda - que jamais se deixaria escorregar numa emoção do passado, quando as respostas satisfatórias seriam: onde, como, ou os porquês das coisas terem evoluído assim. Várias vezes eu tentei que relembrasse, mas foi em vão. Parece que os detalhes daquele tempo lhe causavam tédio ou trauma profundo. Quando finalmente um dia relatou algo interessante, era como se fosse uma cena tirada de um folheto de viagens ou de algum livro antigo de histórias infantis.
     As reclamações do seu passado, quando no auge da vida adulta, eram sim muito marcantes. Não havia uma só pessoa de quem não falasse mal – o tempo que dispúnhamos era preenchido com reclamações de tudo quanto era tipo, fossem fatos passados ou presentes que tirariam qualquer um do sério. Nada parecia trazer mais alívio do que reclamar em tom de desabafo - demonstrando raiva e indignação - e no final quase derramar uma lágrima sentida. Tive a impressão que você se tornou outra pessoa, não era mais quem eu conheci com tanto brilho – aos poucos apodreceu e rachou ao meio. Cheguei a conclusão que depois de tudo desvendado, você imaginava que eu teria mente fraca e não conseguiria unir os pontos para observar todas as contradições pelas quais passamos juntos. O grande problema é que sempre tive excelente memória para aquilo que vejo ou escuto. Justamente por isso seria praticamente impossível que eu não reconhecesse um jogo de trapaça, ou distorção, a fim de semear uma nova ilusão em mim. Esse era o seu jogo sempre – e eu só podia me revoltar cada vez mais com esse seu mundo de mentiras e falsificações de intenções. Não é de se estranhar, portanto, que inventasse tudo para o seu próprio prazer em presenciar o meu sofrimento por te amar, e, inevitavelmente, após algumas cobranças, chegava sempre uma hora que diria do alto da sua imponente sabedoria: “Você não passa de uma pessoa patética!”. Não se cansou de demonstrar que eu não era suficiente, pelo menos em sua visão turva, para participar do seu mundo - às vezes chegava ao cúmulo de dizer que minhas perguntas e observações eram tão insignificantes que não mereciam sua atenção. O pior de tudo é que nunca se arrependia do que fazia. Isso era muito triste!
     Pois é, infelizmente, são essas coisas que rompem o encanto.
    Você insistiu tempo demais nessa combinação diabólica, habilmente mascarada por ações inocentes, que me fazia acreditar que o mal era eu. Não podia ser eu, pois você sempre se mostrou imune a todo mal que viesse de fora mantendo-se inatingível.
     Sei que se nesse momento soubesse da minha reflexão solitária, novamente estaria me desejando o pior. Motivo, talvez, pelo qual imagina que pode seguir pela vida como se passa entre labaredas sem se chamuscar. Uma hora, quando menos esperar, esse fogo poderá se rebelar e lhe causar queimaduras com cicatrizes permanentes. E, algum dia, em seu rosto torcido pela dor, lembrará que mentir, enganar e torcer as coisas ao seu bel prazer não leva a lugar algum.
     Nós dois sabemos que jamais admitirá abertamente que tudo isso aconteceu assim, digo, na minha versão, quando afirmo que mentia sempre, com ou sem motivo. Mentia inclusive dizendo que era meio vidente e conseguia ver o avesso das pessoas descobrindo o mal dentro delas para se proteger. Mentiras dirigidas, com um objetivo certo de intimidar reações. Garanto que seria mais simples, por exemplo, dizer que eu não era interessante e você não tinha vontade de prosseguir. Ao invés disso, encompridava as mentiras e inventava historias para exagerar as dificuldades em estarmos juntos e felizes. Porém, saiba que não foi o mal-feito que fortaleceu minha ira a cada dia, porque acredito que todo mal vindo da perversidade deve ser destruído; esse tipo de coisa fez a sua vida perecer aos poucos, e não a minha; mesmo que aparentemente mantivesse o sorriso e a impressão de tudo certo.
      Daí veio a total consciência do quanto uma estabilidade emocional pode ser colocada à prova em nome de um bem maior – talvez por cegueira ou a teimosia em prosseguir apesar das consequências. No entanto reconheço que o mundo de enganos e encantamentos que me levou até você, foi para que eu colhesse bons frutos de tudo que passou, e ao final você apenas seguisse adiante em seu mesmo passo.
    Nesse momento, no final do monólogo - antes tão constante em nossa relação - estou finalmente fora do mundo que criamos juntos, um mundo obsessivo, um mundo que eu erroneamente julgava de direito e beleza, um mundo de esperança. E se de verdade um dia tive uma esperança sincera é por que existe alguém lá em cima que gosta muito de mim, ainda que você tenha se esforçado ao máximo para mina-la aos poucos com o seu silêncio intenso e aquele profundo desprezo por belas sensações e nobres sentimentos.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Coração Puro

     Menina do meu sonho, nós um dia nos encontraremos para outro passeio, com o pensamento luminoso e o coração puro. Nós passamos poucos meses juntos, mas eu amei tudo aquilo. Minha vida parecia um furacão com tantas idas e vindas, e você sabe que eu não tinha paz.
     Quando nos vimos pela última vez, você sequer imaginou como as coisas terminariam. E ficamos longe, você fugiu.
      Hoje, olhando você assim tão bonita e vestida nesses trajes diferentes, aliás, nada parecidos com os daquela época, lembrei-me de muitas coisas.
      Sabe a sua timidez? Ela ainda persiste e acho que você a herdou de alguém para a vida toda. Apesar disso, você está muito melhor agora, e poucos veem isso, por que você se refugiava em seus dramas.
      Quanto a mim, você sabe: para muitos eu sempre fui ácido e sarcástico, mas era tudo defesa. No fundo das minhas polêmicas e reivindicações sempre esteve um cara assustado e insatisfeito com a vida. E, diga-se de passagem, eu me intoxiquei de muitas coisas, principalmente das minhas razões e certezas absolutas. E se hoje eu sei disso, entendo com clareza que era tudo para fugir de mim mesmo. A minha vida era como flashes luminosos que necessitavam de admiração.
       Você sabe que em nossos momentos bons eu fui criativo, já nos maus, eu era destrutivo.
       Tenho total consciência que ainda hoje você vem vivendo sob o peso da minha sombra, mesmo depois de todos esses anos de incerteza. Eu entendo que você não merece isso, por que agora é uma pessoa melhor do que eu. Alegro-me em imaginar a sua vida bela completamente refeita, e sei que não partirá tão cedo da terra.
     Quero que saiba que não tenho raiva de nada.
     Quando a minha ilusão foi derrubada, o meu corpo sentiu e meu coração se partiu em pedaços, mas isso não me matou e nem matou a minha inspiração.
     Ahh. Eu ainda recebo tantas coisas boas daqueles que se compadeceram comigo. E essa energia me faz cada vez mais transformar as minhas palavras em sensações reconfortantes, talvez por isso a criatividade nunca acabe.
     Se agora eu pudesse, seguraria a sua mão como antes, e caminharíamos abraçados, admirando com empolgação o céu de estrelas. A vida pode não nos permitir isso nesse momento, mas as palavras me levam ao infinito e me fazem sonhar essas coisas.
      Eu sei que compreenderá bem o que há aqui, por que você tem bom coração. Tenho certeza que na ocasião certa falaremos sobre tudo isso, talvez seja durante o sono do seu corpo ou via energia cósmica ou telepática.
      Um dia, num lugar especial, nos reencontraremos para uma reconciliação espiritual, pode esperar. Nessa ocasião eu abraçarei você e farei vários versos em sua homenagem.
      A novidade do momento é que você está tão bem vestida naquelas fotos do quintal. Continua a mesma pessoa tímida e com o olhar para o vazio, permanece em busca das coisas que nunca encontrou explicações - em busca de si mesma.
    Eu olho para as fotos e a vejo novamente como a menina do meu sonho. Uma menina do sonho que se tornou uma pessoa do bem, uma pessoa melhor do que eu. Creio que isso vale para a sua vida bem mais que a fama, o sucesso ou o reconhecimento que espera por seus esforços. Você sabe que no fundo tudo isso é ilusão.
    Menina, nós andaremos de mãos dadas novamente como antes, e isso será maravilhoso. Você me sentirá com o seu coração e não mais com a cabeça, e então você verá a luz. Mesmo que permaneça de olhos fechados você saberá que sou eu, como se fosse um raio rasgando a noite para guiar os seus passos. Por que, um dia, eu aprendi como fazer a palavra virar luz. É como se fosse um presente para você.
    Menina do meu sonho não pense em mim no passado, pois eu estou no seu presente e torço por sua vida refeita e iluminada. Amo você mais do que nunca, e a sua imagem estará para sempre guardada em meu coração, bem juntinho daquela nossa canção especial.
    Desejo que aquela trilha de estrelas que sempre salpicou de luz o nosso caminho na escuridão, agora guie o seu. E jamais se esqueça que para voltarmos a passear juntos, basta que o pensamento seja luminoso e o coração puro.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Aconteceu em Vinhedo

      Você se lembra dos beijos e carinhos que trocamos lá no parque da uva em Vinhedo? Você se lembra da caminhada pela trilha em meio aos arbustos e os patinhos deslizando no lago cinzento? Você se lembra que guardou as fotos que tiramos de rostinhos colados pouco depois do pôr do sol no céu avermelhado? Você se lembra do chafariz e da bica de água cristalina?Eu acredito que a nossa energia em cada toque, em cada olhar e em cada expressão permaneceu naquele lugar para sempre. Por isso cá estou novamente tentando exprimir alguns sentimentos para cair na real depois da tempestade. E se acaso durante essa explicação eu tiver a necessidade de deixar de ser nostálgico e passar a ser duro com as palavras, espero sinceramente que não se sinta ofendida. Pois, posso dizer que, acima de qualquer outra coisa, a lembrança de tudo ainda está muito presente. No entanto, a necessidade interior de expor tudo assim, deve ser atendida da mesma forma quando a gente sente vontade de dizer um palavrão depois de uma martelada no dedo. E, imagino, cá com meus botões, que, a partir daqui, todas as ponderações parecerão por demais supérfluas para serem entendidas por você ou quem quer que seja. 
      Fiquei imaginando o quanto seria importante conversar com você sobre isso, apesar que reconheço, como sempre foi, que nada de útil você consiga enxergar em minhas palavras. Muito menos algo que modifique seu gênio indomável - esse mesmo gênio que nos levou a longos silêncios, que agora vejo o quanto foi difícil superar. Mas, por favor, apenas entenda, sei que você também gosta de refletir sobre tudo o que tem dificuldade para lidar ou entender, e procura enxergar o outro lado das coisas. Olhando lá atrás, aqueles momentos complicados  não lhe parecem um deja-vu? Depois de pensar e repensar chegou a mudar sua opinião? Um  cantinho mais profundo do seu ser não se alterou enquanto estava triste? Poxa vida.... Vê agora no que eu me tornei, ou como são cruéis as rusgas que levamos adiante para tentar abafar o sentimento interior que nos traz uma contradição permanente? Isso parece uma doença que confunde a nossa alma e os desejos mais primitivos. Ou, então,faz uma confusão em tudo que julgamos correto, trazendo uma sensação que não podemos entender e nos faz perder o melhor dessa vida aos poucos, quase que imperceptivelmente. Ahhh, se fosse possível enxergar além dos curtos limites dos velhos preconceitos do passado, talvez um novo saber indicasse o caminho certo vindo dos pressentimentos e,  com isso, haveria mais confiança para suportar as tristezas. Do nada, algo novo poderia surgir, algo que fosse completamente desconhecido a você ou a mim: onde os sentimentos que se calaram antes, por uma desastrosa interpretação de sinais, fizessem tudo ao redor recuar e um enorme silêncio reinasse por dentro. Aí sim, viria a consciência que as tristezas do passado foram momentos de aprendizado. Às vezes dolorido e às vezes de superação, mas apenas aprendizado, ainda que tivessem sido um desastre causador de paralisia. Mesmo assim foi possível sair sem se machucar demais. O meu mais sincero desejo é que a dor não estivesse mais lá para ambos - que já tivesse sido diluída nas memórias daquele tempo que se foi. A certeza é que é difícil saber o que exatamente  houve de verdadeiro naquelas motivações de conflito. Facilmente alguém poderia crer que nada demais aconteceu, no entanto, existem cicatrizes que mostram a cada dia tudo que foi transformado e o que ficou estranho dentro de cada um.. Muitas vezes a visão do que tem adiante chega devagar e assim novamente tudo se sucede como um grande acontecimento que renova a empolgação que estava esquecida num canto. Quanto mais se puder olhar com um viés de neutralidade e paciência, mais profunda será a conquista pelo destino tão desejado anteriormente. E quando ele vier, se vier, – isto é, quando a porta se abrir para chegar aos outros – com toda certeza estará tão próximo e familiar que nem haverá conta do quanto demorou a chegar. Eu acredito nisso. É preciso – é uma evolução que aos poucos desenvolve o sentido lógico de toda uma vida, são as sensações de recompensa esperadas há muito tempo. Você poderá reconhecer com isso que a vida certa ou errada está em  nós, nas atitudes que praticamos. Muitas pessoas não percebem que agir assim é algo simples, e continuam no mesmo passo. Porém, ao darem de cara com algo estranho e confuso recuam diante da novidade. Por isso os movimentos enganam quando não se observa uma solução tão próxima que não chega sem uma ação efetiva e definida. Podemos nos enganar o tempo todo quando o melhor seria admitir que fomos deixados sós, e que todos os pontos que considerávamos apoios foram retirados e as escolhas se tornaram únicas. E a partir de então ficamos entregues ao insólito como se estivéssemos sendo arrastados pelos ares e caindo como uma pedra despedaçada. É claro que nesse momento a cabecinha criativa inventa uma mentira enorme para acalentar o estado dos sentidos, fazendo com que todas as medidas, distâncias e transformações se alterem na conveniência daquele que se torna solitário, com a esperança de que tudo irá logo mudar. Para isso é preciso força. No fundo, mas bem lá no fundinho mesmo, a única força que se dispõe é a de aceitar a existência, e que tudo é possível dentro dela, para o resto tudo vira insegurança. Essa ação é exigida em determinados momentos, porque não é só a falta de interesse que faz a relação interpessoal se repetir numa infindável monotonia, em muitos casos é o medo do novo, do cansaço e, diante disso, ao não nos sentirmos bastante fortes recuamos. Somente quem se sente preparado, quem não exclui nada com antecipação, poderá viver uma relação com alguém como algo empolgante e vivo; indo até o fundo da existência que une a ambos ao mesmo interesse.  
        Pense alto, pense que mais que os erros que condena em você e nos outros, e aparecem num ciclo contínuo na esteira da vida que leva, grande parte da culpa de tudo é dessa criação submetida à vontade alheia, que pode tornar a qualquer um uma pessoa meio ausente das conexões reais do tempo e da vida e ainda acorrentam a costumes cheios de regrinhas. Sabe de uma coisa? Muitas vezes um fato desagradável provocado por alguém que consideramos imprestável, que fez parte por algum tempo do destino que era o sonhado mas se tornou indesejável,  foi uma necessidade que não se podia evitar. Esse momento acabou acolhido pela vida como um aprendizado dolorido, no entanto, essa vida não se tornou limitada pelos nomes dados a essas atitudes e sim à pessoa pelo caráter destrutivo. Mas logo em seguida a esse pensamento é possível retornar ao ponto inicial da própria consciência e assumir que as escolhas feitas foram livremente com opções de risco calculado. Se considera que sua vida está repleta de tristeza, sacrifício e falta de reconhecimento por causa disso, eu posso dizer o mesmo da minha. Ou até que ambos erraram. Mas se fosse diferente, jamais poderia ter encontrado palavras certas para exprimir os sentimentos contraditórios pelos quais passamos ou como ainda permanecem bem vivos na minha imaginação desde a passagem por Vinhedo.

Coração Puro

      Um dia, novamente nos encontraremos para um passeio, com o pensamento tranquilo e o coração puro.   Nós caminhamos por muita...